domingo, 28 de maio de 2017

MILTON MARQUES ENTREVISTADO NO JORNAL DE UPANEMA

Continuação de domingo passado

JU: Como era a educação na época?

MM: Em torno de 50, quando Dix-sept foi eleito governador, Upanema tinha uma pequena escola, mas as professoras tinham votado em Zé Varela. E naquele tempo as coisas eram políticas, acho que muito mais que hoje.
E essas professoras foram transferidas, ficando a cidade sem escola. Até que um cidadão chamado João Melo, de Macau, que tinha uma fazenda em Upanema, trouxe essa coisa boa para Upanema.Contratou Dona Neri Gonçalves e outra professora que não lembro o nome...
Tem Toinha Bezerra também. (Nota do blog: Toinha é Tonhita de Venceslau). Naquela época Neri Gonçalves foi a minha grande instrutora.
A escola era nada mais que a mesa de sua casa, um grupinho de 13 ou 15 , e íamos todo dia para lá. Ali a gente aprendeu bem até voltar à escola Professor Alfredo Simonetti, onde fizemos até o quarto ano primário, que era o máximo que se podia fazer em Upanema. O quinto ano tinha que ser feito em Mossoró ou parar. Foi nesse limite que muitos de nossa época pararam.
Eu vim estudar em Mossoró. Vim para a casa se Seu Né Bezerra, que era primo de meu pai. Ele me aceitou aqui. Naquele tempo era assim: os estudantes iam para a casa de familiares.
JU: O senhor veio sozinho?

MM: Eu vim sozinho. Somente eu que vim. Eu achei tão ruim vir porque na época Mossoró era muito distante. Era uma viagem longa. Não tinha estrada. Na época de chuva ficava interrompido. Tinha aquela chamada Serra Mossoró que era muito perigoso. Todas as vezes que passava-se lá, tinha-se muito medo, aquela serra do Carão que fica depois do Poré. Hoje é daquela maneira, imagine antes, subindo com os mistos (caminhões que faziam a linha para Mossoró).
Então eu vim para Mossoró e só tinha dois caminhos: ou estudava muito para passar no Exame de Admissão ou voltava pra casa em Upanema para fazer o que eu fazia antes que era carregar água no ombro para casa e dar água ao gado. O Exame de Admissão era uma espécie de minivestibular que tinha que se fazer para estudar a quinta série. Era muito difícil. Chorei muitas vezes com saudade de Upanema, porque era uma vida alegre, uma vida muito boa, jovem, sadio, com vários amigos, correndo na rua de um lado para outro, brincando, rodeando a Igreja com uns carrinhos de rolimã. Mas a verdade é que eu passei no Exame de Admissão e fiz o Ginásio em Mossoró, o primeiro científico no Diocesano Santa Luzia, porque só tinha em Mossoró o primeiro lá. No segundo ano eu fui para João pessoa no mesmo processo. Uma família boa, conhecida nossa.

(Continua)


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