segunda-feira, 24 de agosto de 2020

MINHA VIDA, SE NÃO É TÃO LINDA

Minha história começou há muitos e muitos anos. De família sem recursos e herança - como a média do povo brasileiro - tive que morar em muitas povoações. De Umari à cidade distaram oito anos.

Na cidade, começava a estudar no Alfredo Simonetti, depois de ter algumas lições das primeiras letras com Dona Rosilda, Zé de Ladislau e Nilra.

Na cidade e já em casa própria, adquirida pela safra de sucesso do feijão e algodão em terras de Antônio Benvida, passamos a viver da renda do trabalho braçal do velho e dos meus irmãos. 

A vaga na escola foi logo providenciada. Luzimar Aquino, Toinha de Chaguinha, Leni, Netinha, Dona Ritinha e Hilda, são as primeiras professoras das minhas lembranças.

De uma adolescência asmática e com muitas necessidades materiais, acreditei no que me diziam: para quem é pobre, está na escola a melhoria de vida. Acreditei tanto nisso, que resolvi não seguir a multidão. Estudava por cima de pau, pedra e outras coisas mais. A insistência fazia a diferença. Era tido como gente estudiosa, apesar de não ser. Passava algumas horas vagas na biblioteca adquirindo conhecimentos - ser imaterial que ser vivente não rouba. 

Escola bancária

Depois de muitos anos é que soube que a escola na qual estudei não era a correta e eficiente. A escola onde aprendi a tabuada aos onze anos, ler, entender e escrever dois anos depois não era eficiente? Que história é essa?

O que mais me deixa indignado é que os autores e devotos dessa ideia são letrados no mesmo tipo de escola que estudei. E de quebra, ainda deram um apelido a ela: escola bancária. Definição: escola em que o professor ensina e o aluno aprende quietinho no banco, oprimido. Recebe conteúdos transmitidos pelos professores.
 
São tantas "bolas fora" que dá até desgosto retransmitir. Durante muito tempo, como rastilho de pólvora, essa ideia canhota se espalhou país a fora. Deu no que deu: a educação vai bem, mas o ensino vai péssimo. Teremos mais algumas gerações com o nível de ensino ladeira abaixo. E o pior: ninguém consegue deter.

Aprendizagem

Hoje, nem todas as ilusões estão perdidas, como cantou Cazuza, mas há algumas, sim, como a ilusão de querer mudar o pensamento das pessoas na marra. Ora, se não conseguimos mudar a nós mesmos, como queremos mudar os outros?

A mudança ocorre gradualmente com o tempo. Outra coisa: é melhor lutarmos para fazermos o certo, pois, mais cedo ou mais tarde, receberemos a recompensa. Vão por mim.

E a vida?

Minha vida, se não é tão linda, não é tão ruim.




Nenhum comentário:

DEZESSEIS

Faltam apenas dezesseis centímetros para a barragem "Jessé Pinto Freire" - barragem de Umari - sangrar.