COM APOIO GOVERNAMENTAL A AGRICULTURA FAMILIAR É VIÁVEL
É preciso olhar o campo como um espaço viável para os grandes e pequenos produtores (compreenda grandes e pequenos observando o volume individual de produção), porque de fato realmente é, porém, é preciso uma sintonia da produção com as políticas de Governo para garantir um permanente apoio para o setor responsável pela produção de alimentos, tão necessária a qualquer nação. Garantir apoio significa dar acesso ao crédito, possibilitar acesso a mercados, garantir melhores tecnologias e assessoria técnica e incentivar o uso adequado do meio ambiente. Em muitos países, inclusive os desenvolvidos, isso é traduzido em forma de subsídio. Subsídios esses que em alguns casos são disponibilizados na forma de programas de transferência de renda para a população que vive no campo, para que ali permaneçam. A Suíça é um exemplo clássico desse formato.
Não queremos transferir toda a responsabilidade do sucesso da agricultura familiar para os governos, afinal, vivemos em um país democrático, de economia capitalista, onde a livre iniciativa do trabalho é algo inerente e de livre escolha da população, mas, o direito ao trabalho deve ser fomentado pelo estado.
Recebida a adequada condição de trabalho, os agricultores familiares precisam fazer a sua parte com qualidade, ou seja, tomar as decisões corretas sobre o que produzir, como produzir e para onde vender. Ajuda nessa decisão o fato do agricultor ter um perfil adequado, ou seja, conhecer bem o espaço onde vive, escolher as atividades corretas para produzir satisfatoriamente, alcançar satisfatoriamente o mercado consumidor e praticar atividades sustentáveis. Para ser mais claro vamos comentar cada ponto citado:
1. O agricultor precisa conhecer o espaço onde vive: em se tratando da nossa região, é fundamental que o agricultor conheça o semi árido: sua fauna, sua flora, as condições de clima e os costumes da região no que diz respeito a consumo. Com base nisso, as escolhas poderão são assertivas.
A - as culturas a serem plantadas devem ser: compatível com a precipitação pluviométrica e adaptado às outras condições do clima, adequado ao sistema de produção adotado e favorecer a segurança alimentar da família;
B - os animais a serem criados devem ser definidos em função do tamanho da área, do porte dos animais e com possibilidade de agregar valor a produção;
C - outras atividades devem ser desenvolvidas tais como apicultura, pequena irrigação, piscicultura, beneficiamento da produção, de acordo com as condições locais.
O perfil dos beneficiários tem sido apontado como um dos principais motivos para os casos de fracasso na reforma agrária (principal espaço da agricultura familiar), porém, é preciso perceber que, mesmo tendo nascido e vivido na cidade, é possível conhecer o campo e dele sobreviver com qualidade, principalmente, porque um grande percentual da população urbana do interior brasileiro tem alguma relação direta ou indireta com o campo.
2. Escolher as atividades corretas para produzir satisfatoriamente: primeiro é importante dizer que diversificando a produção, a família tem uma maior possibilidade de ter renda suficiente para se manter no campo, reduzindo assim os riscos de perda. É impraticável estar no campo e produzir apenas as culturas de subsistência, ou fazer investimento em uma única atividade. O agricultor precisa ter a capacidade de se especializar em mais de uma atividade em função das oscilações de clima e da necessidade de reduzir os riscos de perda total.
Ao optar por criação de animais, por exemplo, é preciso planejar a alimentação para o ano inteiro, seja com feno, silagem ou outras técnicas adaptadas a nossa região. Os estudos mostram que a criação de pequenos animais é mais viável (ovino, caprino, aves, suínos) e se optar por bovino, que se observe o tamanho da área e a capacidade de suporte dos animais. É importante agregar valor a produção, por exemplo: se cria bovino, produzir o queijo; se cria galinha, realizar o abate; se produz caju, fazer o doce e beneficiar a castanha.
3. Alcançar satisfatoriamente o mercado consumidor: a comercialização de produtos da agricultura familiar no Brasil passou por vários estágios, no momento passa por uma fase de expansão e de vendas direta ao consumidor. Essa tendência precisa ser seguida. Não enxergamos o chamado atravessador como inimigo do produtor, mas este precisa, sempre que possível, fazer suas vendas direta, forçando uma relação mais justa com os atravessadores. Para isso, estão aí as feiras municipais, os programa de compra dos governos, a possibilidade da criação de clientela fiel com entrega na “porta” e outras formas de comércio direto.
4. Praticar atividades que tenham sustentabilidade no tempo e no espaço: a questão ambiental mundial, ao mesmo tempo em que tem sido palco de discurso para alguns, se tornou algo bastante preocupante e, portanto, precisa ser tratada, individualmente, de forma bastante especial. Esta observação vale para quem produz e para quem consome. Na agricultura familiar, utilizar as técnicas que reduzem impacto ambiental (praticar agricultura orgânica, manejar adequadamente os solos, preservar as reservas legais e áreas permanentes) tem um efeito bastante positivo de sustentabilidade e de viabilidade. Daí surge a oportunidade dessa conscientização, a partir do produtor, colocando essa produção ambientalmente correta, a disposição do consumidor que poderá dar sua contrapartida ao adquirir esses produtos.
Atividades que esgotam os recursos naturais (extração de lenha, venda de argila, produção de carvão, uso exaustivo do solo) são atividades que forçará precocemente o retorno das famílias para a cidade, porque logo os recursos se esgotarão e a família não suportará o impacto, podendo não encontrar com brevidade uma atividade que dê a sustentabilidade da permanência no campo.
Considerando que mais de 90% da população rural que se deslocou para as cidades, sobrevive com uma renda familiar inferior a dois salários mínimos (IBGE, 2005) e que parte destas famílias desenvolve atividades informais, acreditamos que tendo as condições necessárias e adequadas, é possível atingir esta renda produzindo no campo e vivendo com uma melhor qualidade, daí a necessidade do estado garantir, educação, saúde e infra estrutura básica para a agricultura familiar do nosso país.