domingo, 24 de fevereiro de 2019

CENTENÁRIO DO VELHO IV

Dois desafetos

Os dois irmãos - papai e Chico Gondim passaram a vida brigando, cada um no seu partido. Apesar de nunca terem se filiado em partido algum ou recebido cargo público, faziam parte do time dos pequenos cabos eleitorais.

Não podiam se encontrar em época de eleição. Um no verde e o outro no vermelho. MDB e ARENA.

MDB era oposição, partido de Aluízio Alves. A ARENA era situação, partidão do poder, do presidente, do governo do estado e da maioria das prefeituras, inclusive da de Upanema. Passei a maior parte do tempo da vida, entre criança e adolescente, vendo o velho votar e perder.

Em 1976, a campanha para prefeito, como sempre polarizada, os dois partidos lançaram candidatos. Do lado vermelho, Zé Lopes ou Zezinho, como chamavam os mais íntimos. Do lado da oposição, os verdes, Nelson da farmácia , primo do opositor disputa a eleição.

Passaram todo o tempo da campanha, papai e o irmão, numa disputa ferrenha. Bastava um avistar o outro que era aquele bate-boca sem fim.

Para encurtar a conversa, Zezinho ganhou a eleição em 15 de novembro de 1976.

Chegou a hora da carreata, lá pela tardinha de um dia de novembro. A contagem dos votos era lenta. Portanto, deve ter passado uns dois ou três dias para o resultado final.

Na rua, meu tio, contente e pulando a vitória. Em casa, derrotado, desconfiado e revoltado, o velho Erasmo. Este ficou na frente da casa, próximo a um pé de castanhola observando os vitoriosos passarem em passeata.

De repente, surge próximo a ele o vitorioso, com um dos filhos também pulando a vitória.

O velho tio, ao ver o irmão fora, resolve provocar:

"Não disse, Erasmo, que Zezinho ia ganhar a eleição?"

Papai ficou bravo e partiu para cima dele como se fosse agredi-lo. E não desperdiçou palavras, enquanto o velho Chico, não tão velho assim ainda, entrava na multidão:

"Você é muito é fi duma égua!" 

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