As línguas antigas, principalmente o grego e o latim, têm sido desprezadas de uma forma assustadora. São elas que oferecem os fundamentos para a cultura linguística, em especial a nossa.
Deixemos que Almeida Garret explique:
O grego e o latim são necessários elementos desta educação nobre. Deixar falar modernos e modernices, petimetres e neologistas de toda espécie; o homem que se destina, ou que o destinou seu nascimento, a uma vocação pública, não pode sem vergonha ignorar as belas letras e os clássicos. Saiba ele mais Matemática do que Laplace, mais Química do que Lavoisier, mais Botânica do que Jussieu, mais Zoologia do que Linneu e Buffon, mais Economia Política do que Smith e Say, mais Filosofia de legislação do que Montesquieu e Bentham; se ele não for o que os ingleses chamam de "good scholar", triste figura há de fazer, falando ou seja na barra, na tribuna, no púlpito - tristíssima escrevendo, seja qual for a matéria, porque não há assunto em que as graças do estilo e correção da frase e beleza da dicção não sejam necessárias e indispensáveis. Ponham-me Demóstenes, Cícero - e Canning também - com seus grandes talentos, fontes de químicas e economias políticas, e com todos os códigos de suas respectivas nações na cabeça, mas desprovidos de suas imensas riquezas literárias, do irresistível feitiço de sua linguagem clássica - ponham-nos no areópago de Atenas, no senado de Roma e na Câmara de Londres, e veremos se são os mesmos homens, os mesmos estadistas, os mesmos oradores onipotentes, diante de quem tremem os Filipes, os Catilinas e as Santas Alianças.
Escreve alguém com dobrada erudição e engenho o Espírito das Leis, mas sem os encantos do estilo clássico de Montesquieu, e veja quantos o leem. Traduzam em língua de terelos as obras de Plutarco, de Cícero, de Laplace, e veremos quantos leitores têm.
Ora, é tão impossível escrever bem em português, em castelhano, em inglês, em qualquer das línguas do ocidente da Europa, sem saber grego, e principalmente latim, como era impossível aos escritores de Roma, fazê-lo bem na sua, sem conhecerem a de Atenas; ou ainda hoje ao poeta ou orador de Ispahã ou de Istambul o escrever bom turco ou bom persiano, sem saber o árabe antigo, a língua do Corão e de Hafiz, agora tão morta para eles como o grego e latim para nós, como o sânscrito para Índios e Mongóis." ( Garret em "Educação", carta I).
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