domingo, 27 de setembro de 2009

DO JORNAL DE UPANEMA

CUIDADO COM A CRUVIANA

Das mais recentes histórias que me contaram, selecionei esta para que o leitor veja até que ponto uma palavra mal entendida faz efeito na vida da gente.

O homem da minha história era um viajante que cavalgava um jumento ou uma burra. Sei lá. O animal ia carregado com mantimentos pesados.

Depois de um dia de viagem, ele chegou numa casa de um desconhecido, já á noitinha.

Convidado a desapear, ele desceu do bicho e tratou de se sentar. Depois de lavar os pés, foi naturalmente convidado a jantar. E como naquele tempo não tinha mais nada a fazer – a TV ainda não tinha chegado na zona rural – o homem guardou o animal e foi dormir. O local da dormida fora questionada pelo viajante nesses termos:

- Quero dormir aqui mesmo debaixo dessa latada!

- Não, meu senhor. Durma dentro de casa.

- Por que?

- Por causa da cruviana.

- Que cruviana que nada! Nas viagens que fiz já enfrentei coisa pior que uma cruviana. Eu vou lá ter medo de cruaviana!

- É tô avisando.

E assim o homem teimou e não aceitou dormir dentro de casa. Ainda assim, antes de dormir, o dono da casa ainda gritou:

- Cuidado com a cruviana!

O homem nada respondeu, mas falou consigo mesmo: eu lá tenho medo de cruviana!
Como precaução, puxou a pistola dos quartos e se preparou para um eventual aparecimento da cruviana. “Se ela vier, eu mato”.

Não demorou muito, quando escutou umas pisadas de um negócio lá para o escuro. Olhou e viu um vulto.

“Lá vem a cruviana”. Preparou-se e “pei!” Mesmo no escuro, acertou num animal. Correu para olhar e – adivinhem o que era? – o seu próprio animal. Estava lá o corpo estendido no chão. O dono da casa correu pra ver o que era.

- Que foi isso?

- Atirei numa coisa pensando que era a cruviana.

- Que cruviana?

- A cruviana não é um bicho perigoso?

- Não, rapaz! Nós chamamos aqui de cruviana o grande frio que aparece por aqui nos meses de junho e julho.

E assim, o homem assassinou seu próprio animal porque não pediu explicação a tempo de uma palavra desconhecida.

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