domingo, 1 de julho de 2018

QUEM SE LEMBRA?

Debruçada na janela

Uma cena que marca a vida da gente que passou dos cinquenta é a presença de uma moça debruçada numa janela a contemplar as pessoas que iam e vinham.

Naquele tempo as opções para os olhos nem se pareciam com as de hoje. Falo de um tempo sem rádio, sem TV, sem zap, sem nada. Jornal de papel também não se fala porque pouca gente sabia ler e tinham acesso a textos escritos, a não ser rótulos de sabonete.

A janela era um local exato para ver o que muitos não viam se estivessem dentro de casa.

Recorro mais uma vez às memórias do grande escritor Érico Veríssimo quando ele narra um de seus namoros de antigamente:

"Um anoitecer, de banho tomado, barba feita, brilhantina nas melenas, vesti minha roupa azul-marinho de jaquetão, dei um nó caprichado na gravata, perfumei o lenço com loção Maderas del Oriente, de Myrurgia, apanhei a bengala de junco e me declarei pronto para descer a Rua do Comércio, rumo da casa duma nova namorada, com quem ficaria conversando por algum tempo - ela debruçada na sua janela, a uns dois metros do nível da calçada, e eu parado em cima desta, olhando para cima: o famoso namoro de gargarejo". (Solo de Clarineta, volume 1, página 211).

Algo parecido com o namoro de gargarejo  descrito pelo escritor gaúcho - frase não conhecida por aqui - é relatado pelo cantor Fernando Mendes em sua música Menina da janela:

"Toda vez que eu passava em frente a sua janela
A menina dos olhos tão lindos estava tão triste
Em seus lábios jamais consegui um sorriso encontrar
Foi por isso que um dia com ela eu fui conversar.

Falou-me da sua alegria
De quando eu falava com ela
Porque eu era a luz dos seus olhos
Seu mundo seus passos
O seu céu o seu mar.

São tão longas as noites são frias, os dias pra ela
Passa todo seu tempo sozinha na sua janela
Outro dia beijei o seu rosto e a menina chorou
E falou que jamais neste mundo um carinho ganhou.

Aqui parece haver um amor platônico da parte dela e não do eu lírico. Mesmo assim, trouxe o texto pra ilustrar aquele tempo.

E você já teve um namoro de gargarejo com alguém debruçada na janela?


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