Minha avó morava longe, na fazenda, e só raramente podia me visitar. Mas procurava sempre manter contacto conosco, escrevendo e mandando pequenos presentes com regularidade, porque tinha pena de nós, que éramos seus netos órfãos. Ela nos tratava com o carinho grave que lhe inspirava a lembrança de meu pai, e tinha para mim um encanto meio triste, de que eu nunca me esquecia.
Uma tarde, entretanto, chegou a notícia de sua morte. Fui eu mesmo que a recebi, de um parente com que me encontrei na praça fronteira à nossa casa. Ela falecera de repente, naquela manhã.
Senti uma necessidade urgente de me esconder. Corri para casa e fui afundar a cabeça no travesseiro, onde principiei a chorar como um perdido. Não era tanto a imagem de minha avó que me corria à memória, quanto a voz dela, de que eu sentia uma saudade funda e desesperada. Aquela voz, que exprimia para mim um ideal de mansidão e de ternura, eu procurava ouvi-la como antigamente, e era a ideia de nunca mais escutar-lhe os sons familiares que me apertava o coração mais do que tudo.
Lembrei-me do que me tinham contado sobre a dor que minha avó sentira quando meu pai morreu. Depois, ocorreu-me a impressão do isolamento em que ela devia ter vivido seus últimos anos na fazenda velha de que não quis se mudar. Imaginei o horror de se morar sozinho naquele casarão sombrio, no meio de uma paisagem sinistra de que eu me lembrava bem. Senti um arrepio de medo à lembrança dos quartos escuros e mal-assombrados perto dos quais eu passava apavorado na última vez em que fora à fazenda. Com a mesma sensação de medo, recordei o pátio lajeado onde, à noite, uivavam cachorros magros; o Cruzeiro coberto de limo; a senzala abandonada cheia de morcegos; o muro de pedra, escurecido pela unidade; a grade enferrujada do quarto em que meu pai tinha morrido. E eu, que nunca dantes considerara a hipótese de minha avó ser infeliz, acabei me compenetrando de que ninguém poderia ter sido tão desventurado. Isso me fazia soluçar convulsivamente.
Minha avó - A história da minha avó em quase nada se parece com a do autor acima. Morou com a gente um bom tempo. Falecera lá em casa numa noite, quem ando eu tinha em torno de dez anos. Recebi pela manhã a notícia com surpresa, mas aos poucos entendi que na noite anterior havia umas pessoas "fazendo quarto", ou seja, fazendo companhia enquanto ela viajava para nunca mais voltar. Não chorei. Vi papai chorando. É disso que me lembro. Nem da rede carregada pelas pessoas não tenho nenhuma lembrança. Não me lembro de sua voz, mas ainda me recordo de alguns de seus costumes. "Cadê o menino capaia?" Ela pedia uma palha de carnaúba pra pra tirar o sarro do cachimbo. Se a gente demorava, ela perguntava pela palha. Rezava por todos os filhos, menos por papai, porque ele não a levava para a casa de outros filhos. Tinha 92 anos.
HUMOR
"O senhor devia pagar os impostos com um sorriso nos lábios."
"Já experimentei, mas quase fui em cana. Tive que pagar com dinheiro mesmo."
DEZEMBRO - Último mês do ano, assim chamado por ser o décimo no antigo calendário romano. No calendário albano tinha 35 dias, no de Numa 26, no de Júlio César 30 e no de Augusto 31. Era o mês em que se celebrava as saturnais. (Enciclopédia Brasileira Globo, volume 4).
EDUCAÇÃO - No país da educação, a cada dia vejo o ensino ir parar no brejo. A cada dia vejo os entendidos mergulharem na onda de que o país só pode mudar através da educação. Nem eles sabem que o país Brasil já é há muito tempo o país de uma educação avançada. Já caímos no poço e na lorota freirista, segundo a qual a sociedade deve estar dentro da escola, como se ela pudesse resolver os problemas sociais. Ivo precisa ver a uva, mas também os problemas que o cercam. Enquanto isso, nem a escola resolve os problemas que cercam Ivo, nem ele aprende gramática, matemática, física, química, história, línguas estrangeiras.
Vá Brasil pra frente!
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