Não
se assombrem os mais jovens com o que vou contar. A maioria das selas de
bicicleta de antigamente eram sustentadas com uma mola, para dar o balanço
quando andávamos.
Por
causa do peso e do balanço, muitas vezes ela se rompia e caía. Quando havia
tempo, apanhava-se e soldava-se.
Quando
não tinha mais jeito, comprava-se outra sela ou colocava-se uma pedra no lugar
da mola. Foi o que ocorreu com um menino, ao tomar emprestado uma bicicleta a
um senhor. Ele foi à viagem dele, aqui mesmo na cidade. Andou, andou, até que
escureceu.
Ao
passar num beco escuro e cheio de buraco, a bicicleta deu um catabilho tão
grande que ele pulou da sela, e logo sentiu falta de alguma coisa. Então
pensou: vou procurar a mola. E agora, meus amigos, o que fazer, visto que o
transporte era alheio?! O jeito foi descer e procurar. Como estava no escuro,
ficou mais difícil. O menino procurou, procurou até se cansar.
Depois
que viu que não encontrava a tal mola, resolveu voltar para devolver a
bicicleta faltando o acessório da sela. Ao chegar, muito desconfiado, foi logo
dizendo: “meu senhor, vou dizer uma coisa: está aqui a bicicleta, mas perdi a
mola no escuro. Quando corria, ela escapuliu e não teve jeito de encontrar.
Cacei até agora e não achei.” Ele ainda não tinha acabado de se desculpar,
quando o dono disse, calmamente: a sela não tinha mais mola fazia tempo.
No
lugar dela tinha colocado uma pedra. “Uma pedra? Quer dizer que eu passei aquele
tempo todo procurando uma mola e no canto tinha uma pedra?”
Essa
história, meus amigos, quem contou jura que tem personagens de carne e osso.
Mas eu morro e não digo quem são. Se alguém porventura adivinhar os ditos
cujos, eu nego até o fim dos tempos.
Texto publicado na edição de março
do jornal de Upanema
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