domingo, 26 de novembro de 2023

DOMINGO

CANAL

Não são poucos os leitores que preferem a leitura em papéis à tela.

O mal que o brilho faz aos olhos é somente um detalhe. O prazer de folhear as páginas de um livro, revista ou jornal já foi escrito em prosa e verso por muitos leitores-analistas. 

O folhear constitui-se também como uma forma mais prática de leitura. 

Já se falou também no cheiro do papel.

Ler uma crônica de Serejo na tela é muito bom. No papel é bem melhor.

Pelo menos esta é minha opinião, diria Emery Costa.

O jornal em papel é canal quase em extinção, mas espero que isso não se concretize.

FALEMOS DE CÂMARA CASCUDO

Eis o que narra Câmara Cascudo sobre o seu pai, Francisco Justino de Oliveira Cascudo:

Uma das aptidões de meu pai quando rapaz era desencantar alma do outro mundo. Aparecendo uma visagem, amortalhada em branco, vagando pelos arredores das últimas ruas, espavorindo os notívagos, fatalmente meu pai ocultava-se em pontos estratégicos, horas mortas da noite, para a perseguição assombrosa. Carreiras olímpicas, esgotando a resistência do espectro, alcançado, derrubado, subjugado, identificado. Normalmente se tratava de viúva inconsolável procurando compensação fisiológica ou moça impaciente e ambulatória no encalço do amante, sedentário e covarde, que a esperava. Hoje essas técnicas foram superadas pela moto-mecanização discreta e prestante em serviço do erotismo secreto e noturno. Jamais meu pai revelou os nomes desses fantasmas, sedentos de amor carnal.

A façanha mais famosa foi terminar com a lenda de "Poltros Mortos", fazenda então abandonada nos arredores de Barriguda, hoje cidade de Alexandria, no Rio Grande do Norte, entre 1883 e 1885. Os comboeiros que procuravam arrancho durante a noite ao redor da velha casa-grande eram alvejados com repetidas pedradas sem que jamais conseguissem encontrar um só projétil. Ouviam insistente rumor confuso no interior das ruínas, um persistente e dilacerante gemido aterrador e a contagem incessante de dinheiro metálico, perturbando a paz do acampamento, obrigando-os a mudar de pouso. (O tempo e Eu - páginas 219-220)

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