quarta-feira, 13 de maio de 2009

TEXTO ENVIADO

NOTAS SOBRE O POÇO FEIO

(*) José Romero Araújo Cardoso

A natureza privilegiou o patrimônio espeleológico potiguar com a presença de verdadeiros caprichos em diversas exposições superficiais da estrutura calcárea, a qual se constitui em uma das singularidades da bacia potiguar ao lado do importante depósito sedimentar conhecido no meio técnico como arenito Assú.
Integrando a bacia potiguar, o território pertencente ao município de Governador Dix-sept Rosado, antiga terra do gesso, do alho e da cebola, ainda importante na exploração calineira, abriga preciosas belezas naturais como o Poço Feio, localizado na comunidade rural do Bonito, distante cerca de quatro quilômetros da cidade.
Haver escoamento d’água dentro da caverna calcárea torna a caverna ainda mais importante para os estudos geológicos e espeleológicos, embora enseje impressionante e exponencial atrativo à população local e externa que busca lazer não raro marcado por incipiente consciência ambiental sobre a necessidade de preservação da formação calcárea submetida à intensa ação hídrica em moldes racionais.
O Poço Feio integra indelevelmente o imaginário do povo dix-septiense, cuja lenda foi divulgada e apresentada em peça teatral escrita e dirigida pelo teatrólogo Nonato Santos. Próximo à entrada da valiosa formação natural, encontra-se pedra calcárea em forma de baú, de onde, conforme os mais velhos, em noites de lua desencanta-se bela mulher que vaga buscando enfeitiçar homens.
Provavelmente o Poço Feio é um dos recantos de lazer e diversão mais freqüentados no município de Governador Dix-sept, bem como da região contígua à antiga Passagem do Pedro, Sebastianópolis e São Sebastião. Compromissos e responsabilidade com a preservação do ambiente natural que compõe a estrutura natural do Poço Feio são enfatizados por poucos, sendo a maioria nativa, a qual demonstra afeição e identificação com o patrimônio espeleológico potiguar, representado, no caso específico, pela interessante formação calcárea cortada por curso d’água que proporciona beleza ímpar aos serpenteares da bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró.
Quebrar garrafas de bebidas alcoólicas e refrigerantes, sobretudo destas primeiras, bem, como deixar lixo acumulando, na entrada principal do Poço Feio, são práticas comuns, as quais atesta absoluta ausência de qualquer princípio engajado no processo ensino-aprendizagem referente à educação ambiental. Alguns relatos da população local indicaram que mesmo dentro da caverna inundada já houve casos semelhantes, denotando irresponsabilidade e falta de compromisso humano e ambiental.
Há décadas a SEP e a SEPARN, duas organizações não-governamentais, estudam o patrimônio espeleológico potiguar, motivo pelo qual despertou-se o interesse dos poderes públicos, resultando em primeira reunião realizada em Mossoró, no dia sete de abril de 2007, com Promotores do Ministério Público preocupados com as incertezas pertinentes à intensa relação do homem com a natureza, cujo enfoque centrou-se na necessidade de se implementar o desenvolvimento sustentável referentes às cavernas potiguares.
Além do Poço Feio, ficou acertado empreender lutas sem trégua para que também se tornem Áreas de Preservação Ambiental o Lajedo do Rosário, localizado no município de Felipe Guerra, e a Furna Feia, situada em terras da antiga Maisa, precisamente no assentamento Eldorado dos Carajás II, a qual se estende ainda por terras pertencentes ao vizinho município de Baraúna, sendo a mais extensa caverna de todo Estado do Rio Grande do Norte.
Matéria prima para inúmeros produtos usados na construção civil e militar, o calcáreo é extremamente visado pelo capital e sua dinâmica, razão pela qual é tarefa conjunta lutar para que as belezas naturais potiguares, as quais revelam infinito potencial turístico sustentável, deslumbrem e propiciem qualidade de vida às gerações futuras.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor adjunto do departamento de geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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TRINTA E CINCO

Pela medição de hoje pela manhã, a sangria da nossa barragem está a trinta e cinco centímetros para sangrar. Basta um empurrãozinho que vai.