A torrente - Antônio Mariano de Oliveira
Da serra azul onde a palmeira medra,
Onde paira a neblina, se deriva,
Entre abertos lisins de esconsa pedra,
um fio d'água viva.
Exíguo e frouxo, palmo a palmo avança
Pela escarpada; a folha de passagem,
Leva, rodeia os troncos, não descansa,
Não para na viagem.
Ora entre os líquens verdes serpenteia,
Corre entre os fetos, geme na fragura,
Ora caminho aberto em livre areia
Acha, avança, murmura.
Desce depois mais volumoso, arreda
Quanto encontra, e aumentando em cada frágua,
Recua e salts, erguendo em cada queda
O seu penacho d'água.
Com a chuva engrossa, rui no chão da gruta,
Cascata agora; a penedia bronca,
Mina-a em redor. desloca-a, imensa e bruta,
Leve-a, espumeja e ronca.
A tudo investe, abala, desimplanta,
Destrói, derriba, na evulsão crescente,
E ruge das quebradas na garganta
A impetuosa torrente.
Negra, socava, tétrica, soturna,
Treme e retumba; as águas passam; tudo
Geme; o ninho, a flor, o antro, a furna,
Aquele embate rudo.
No vale, enfim, torcendo a cristalina
Juba, se atira, e em ecos se propaga
A torrente caudal, e ora a campina
E as florestas alaga.
Em rio audaz que as fertiliza e banha,
Calma agora, volvendo as ondas fundas:
Pois, como a ideia, as águas da montanha
Querem ser livres para ser fecundas.
HUMOR
O velho acaba de morrer. O padre encomenda o corpo e se rasga em elogios:
- O finado era um ótimo marido, um excelente cristão, um pai exemplar!
A viúva, então, vira para um dos filhos e lhe diz ao ouvido;
- Vai até o caixão e veja se é mesmo o seu pai que está lá dentro!
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