Booooooooooooôa!
A história que segue tem personagens, espaço e tempo. Vou apenas situar o tempo. Quantos aos demais elementos da narrativa, prefiro omitir, por razões éticas, digamos.
Foi nos anos 80, numa dessas fazendas de Upanema, mais precisamente num cercado, em pleno inverno, e cheio de trabalhadores que limpavam um mato, com enxada.
O patrão, sempre ali pelas sete e meia, trazia o sagrado lanche para os trabalhadores. O lanche era o básico para o tipo de serviço, o limpar mato: cuscuz com ovo, café, leite e rapadura, como uma espécie de sobremesa. Água farta.
Chegou a hora do lanche, e nada de o patrão chegar com o comer deles. A preocupação bateu em todos, mas eles continuaram no serviço.
Alguns minutos depois, lá vem o patrão, com pisadas leves, com o lanche de sempre e o rosto um pouco desfigurado. Nem era preciso dizer nada. Havia um problema. Ninguém o conhecia com aquele semblante.
Um deles foi logo perguntando;
"O senhor demorou e vem triste. Por que?"
Ele prontamente respondeu, com a voz embargada:
"Demorei porque minha melhor vaca amanheceu morta."
Antes que alguém se lamentasse, um se antecipou e disse com a maior força e bem alto:
"Booooooooooooôa!"
Todos ficaram sem graça, inclusive o próprio.
O booooooooooooôa foi pronunciado constituiu-se numa grande gafe. Mas não foi evitada porque o dito tinha e ainda tem esse costume de dizer booooooooooooôa! com qualquer coisa. É um hábito. E naquele instante de profunda tristeza, ele foi infeliz, muito infeliz mesmo.
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