Correu muito quando soube que ele estava solto por aí. Para ser franco, nem sabia de sua existência.
Começou a grande fugida. Logo a imprensa noticiou algumas estratégias de proteção. O negócio era fugir, sem precisar correr. Proteger-se com um pequeno utensílio não comum para as pessoas comuns e banhar-se. Isolar-se, se possível.
Isolou-se até do emprego. Protegeu-se como mandava o figurino. Banhou-se como era recomendado.
"Cuidado" Higienize-se porque o bicho é perigoso. Já matou não sei quantas por aí.
Esperou pelo auxílio de pessoas amigas. Obteve ajuda. Depois veio a ajuda do governo. Trancado em casa, só ia na padaria pela manhã.
"Mantenha distância!"
Até aquele momento, o manter-se distante era só para os carros. Fiquem distantes porque senão poderá atropelar o outro carro a frente.
Pela força do decreto, não mandava mais os filhos para a escola. "Lá tem aglomeração". Como se em casa, com sete pessoas, não houvesse.
Surgem as conversas desencontradas. "Tal remédio serve". "Não serve". "O bicho é perigoso". "Não mata ninguém".
Os dias se arrastaram lentos. Não tinha nada o que fazer a não ser ouvir notícias venenosas na TV e no celular. O da vizinha era pior. "Dizem que morreram duzentos só neste mês em tal cidade." "Aqui diz que vai chegar logo, logo aqui. É bom entocar-se".
De repente, uma trégua. A campanha política chegou e o bicho desapareceu.
"Por onde anda? Que fim levou?"
Santo remédio a folia. Mesmo com muita gente de nariz e bocas abertas, ele não entrava. Seriam as belas canções do "sai fulano, sai sicrano" e o coiso pensava que era com ele?
De repente, mais que de repente, a folia acabou e ele voltou brabo. Voltou a derrubar muita gente. E no ar, o nosso personagem ainda está entocado, com os nervos abalados, recebendo os últimos tostões e com uma grande interrogação?
"Que mistério é esse?"
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