sábado, 25 de junho de 2022

CRÔNICA

Chegou em casa contando que tinha comprado uma esfriadeira e um moedor, para que pudesse tomar um ponche frio ou um suco de fruta.

Recordava que nos tempos antigos não tinha disso não. Tudo vinha do pote. Se queria alguma coisa fria, tibungo no pote! Numa enfiada, trazia a água bem friinha, saborosa. Não importava que viesse um bagacinho. Tudo saía pela urina.

Se queria tomar um ponche, ia no pé de limoeiro e dava de garra de uns limões, cortava na ponta da faca, espremia, açucava com açúcar preto e metia pra dentro do bucho.

Os tempos são outros, minha velha! Agora ninguém quer mais viver naquele sofrimento. As facilidades são tão grandes que a gente não consegue resistir. Os vendedores insistem tanto que ninguém consegue aguentar o encharco. 

Ainda agorinha, quando passava por ali a esquina, uma moça me chamou e perguntou se queria comprar uma coisa que esfriava tudo por dentro. Entrei, sentei, tomei um cafezinho. Tinha chá também e até biscoitos. Tudo por conta da casa, me dizia ela. Depois de me convencer a comprar o primeiro eletro, emendou com outro. Sempre é assim. Nunca fica no primeiro. 

Esse aqui mói tudo. Cuidado com os dedos, porque ele corta tão veloz que não espera por ninguém.

Ensinou bem direitinho como liga e desliga.

Bote tudo dentro. Depois aperte o botão. Depois de botar pra esfriar, boas bebidas e boas esfriadas.

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