HISTÓRIA DE PEDRO MALASARTE
O Padeiro pão-duro
Um belo dia, Pedro Malasartes resolveu aprender a arte de fazer pão. Para isso, tratou de arranjar um emprego em uma padaria. Seu pai havia morrido e ele tinha de trabalhar. Infelizmente, o dono da padaria era muito pão-duro, o que fica muito feio para um padeiro, com contando cada tostão e nunca deixando um empregado seu comer uma rosquinha durante o trabalho.
Pedro Malasarte trabalhava de sol a sol - quer dizer, desde que o sol se punha até ele nascer de novo, pois o ofício dos padeiros é à noite, quando todo mundo está dormindo. Se assim não fosse, como é que a gente ia comer o pão quentinho pela manhã?
Nosso herói recebia como pagamento três moedinhas e um pão dormido, o que era muito pouco diante do muito que trabalhava.
Lá pelas tantas, vendo que, por mais que se esforçasse, o dono da padaria não tinha a menor intenção de lhe melhorar o salário, Pedro Malasarte começou a fazer das suas.
Certa noite, chegou a sua vez de peneirar a farinha de trigo para fazer o pão.
Acontece que estava muito escuro e havia acabado todo o querosene com que se acendia o lampião. Já fazia três dias que os pobres empregados do padeiro pão-duro estavam trabalhando no escuro!
Pedro Malasarte pediu uma vela.
- Ora, vamos, se quer claridade, vá peneirar a farinha à luz da Lua! - retrucou o carrancudo patrão.
E tratou de ir dormir.
Pedro Malasarte não teve dúvida: foi para o meio da rua, onde o luar estava bem claro, e ali peneirou a farinha toda.
De manhã, ao abrir a janela, o pão-duro do seu patrão arregalou os olhos: lá estava sua preciosa farinha no meio da rua, soprada pelo vento e molhada pelo orvalho!
Correu para baixo. Pedro Malasarte estava tranquilamente sentado à porta.
- Como é que você, seu maluco, me peneirou a farinha no meio da rua? - foi perguntando o dono da padaria.
- Só obedeci ao que o senhor mandou - respondeu Pedro Malasarte. - Estava muito escuro e fui procurar um lugar onde a lua clareasse.
O patrão bufou de raiva:
- Minha freguesia não vai ter pão hoje, mas você vai ver só uma coisa! Vou levar você ao rei!
E pegando-o pelo braço, foi com ele ao palácio.
Na hora da audiência, o avarento padeiro desfiou um rosário de queixas e lamentações, contando como Pedro Malasarte até então só lhe dera prejuízos. E por último, fora peneirar a farinha no meio da rua!
Enquanto ele falava, Pedro Malasarte ia arregalando os olhos, arregalando cada vez mais os olhos, arregalando-os tanto que o lamuriento padeiro, assustado, perguntou-lhe:
- Que diabo você está fazendo agora, com esses olhos enormes de coruja olhando para mim?
- Não disse que eu ia ver uma coisa? - explicou Pedro Malasarte. Estou arregalando bem os olhos para ver o que vai me mostrar!
O rei e seus ministros, que já conheciam a fama de pão-duro do padeiro, soltaram uma grande gargalhada e o soberano sentenciou:
- Amigo padeiro, com Pedro Malasarte está mal de vida. Pague-lhe uma moeda de ouro por dia que ele trabalhou até aqui e deixe-o ir em paz. E ai de você se alguém vier se queixar do seu pão-durismo!
Daquele dia em diante, muito a contragosto, o avarento padeiro tratou de aumentar o salário dos seus empregados e nunca deixou de dar um pão a um pobre que lhe pedisse.
Sabem do que mais? Começou a ser tão querido que as pessoas o cumprimentavam na rua e lhe desejavam felicidades. Só então compreendeu que tinha mais lucro sendo generoso do que antes, quando era pão-duro.
E acabou muito amigo de Pedro Malasarte, em cuja casa nunca mais faltou pão quentinho todas as manhãs. (Do livro "As aventuras de Pedro Malasarte", de Sérgio Augusto Teixeira).
Estilo Pedro Malasarte - A esperteza do personagem está encarnada em muitas pessoas.
Na história acima, até que sua esperteza não foi daquelas que é um comportamento reprovável. Muito pelo contrário: o padeiro, com a fama que tinha de pão-duro, teve que mudar.
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