Vou fazer algumas
emendas e mudanças das frases abaixo, adaptando-as ao jeito de falar dos
upanemenses.
Gente alta é galalau:
aqui gente alta não é galalau: é varapau, espigão. Se for alta e magra é
macarrão. Botão de som é pitôco: aqui é botão de ligar.
Se é muito miúdo é
pixototinho: usamos as duas construções, acrescentado de miudinho. Se for resto
é cotôco: resto é sobra também. Tudo que é bom é massa: massa é uma gíria que
entrou há poucos anos. Tudo que é bom, é bom mesmo. É bom de engolir a língua.
(Mesmo que ninguém ainda tenha engolido a língua porque uma coisa seja boa.
Tudo que é ruim é peba:
ruim é porqueira, mas também é peba. Tem até a história do homem que convidou
um amigo para almoçar peba. O convidado ficou muito entusiasmado com o convite.
Postos os pratos na mesa, só era feijão com arroz. O amigo logo protestou: você
não disse que era peba? protestou o convidado. Sim, respondeu o anfitrião. Você
quer um comer mais peba que este?
Rir dos outros é
mangar: Corretíssimo. Nunca ouvi alguém dizer "rir dos outros". Só
dizemos "mangar" dos outros. Há regiões que mangar é encarnar. Eles
até mangam de nós porque dizemos "mangar". E nós nem mangamos deles
porque eles dizem encarnar.
Faltar aula é gazear:
Quando um aluno falta aula, pouca gente diz gazear. Dizemos que a pessoa faltou
a aula, não foi pra escola etc.
Quem é franzino
(pequeno e magro) é xôxo: quem é franzino chamamos de magrinho, esqueleto
humano, espirro não sei de quê etc.
O Bobo se chama leso:
Bobo é lesado, abestado, abestaiado. Algumas pessoas também usam o
"leso".
E o medroso se chama
frouxo: Medroso é mole. Também é chamado de frouxo.
Tá com raiva é invocado:
Se tá com raiva, está zangado, enraivado, com o cão, com a mulesta, danado,
espritado. Invocado é encabulado.
Vai sair, diz vou
chegar: Expressão idêntica. "Caba" (homem) sem dinheiro é liso: mais liso que um LP de Roberto
Carlos. É o liso, leso e louco, que compra fiado e pede o troco.
A moça nova é boyzinha:
moça nova aqui é mocinha, garota, menina. Pernilongo é muriçoca: é muriçoca
também. Ninguém chama de pernilongo. Só se vier alguém de fora. Aliás, ninguém
aqui chama nem muriçoca. Elas vêm mesmo sem chamar. Há períodos aqui que não
tem quem agüente.
Chicote se chama
açoite: chamamos pelos dois nomes. Também chamamos de ligeira, chibata.
Quem entra sem licença
emburaca: Usamos a mesma palavra.
Sinal de espanto é
"vôte": viche! também é outro jeito de espantarmos. Outros usam:
"valei-me!"
Tá de fogo, tá bicado:
de fogo, bicado, encachaçado, triscado, melado, cego, bêbo, chei latindo, de
porre, mamado. São expressões equivalentes.
Pedaço de pedra é xêxo:
Além de xêxo, usamos também tarisca. Quem não paga é xexêro: aqui quem não paga
recebe o honroso nome de velhaco. No popular, é o famosíssimo
"veaco". Trapaceiro, enganador, esquecido. Traduzindo: o que não paga
a ser vivente. Tem até uma história: dois homens estavam próximos de um defunto
já no caixão. Um era credor; o outro, devedor. O credor pergunta: cadê o
dinheiro que me deve? O devedor responde: mandei por ele! Em seguida, aponta
para o defunto. Por ele? Quem? Por fulano ali, responde o veaco, com a cara
mais lisa do mundo.
O mesquinho ou sovina é
amarrado, muquirana, mão de vaca, ou pirangueiro: Nem muquirana nem pirangueiro
são usados aqui. Dessa lista, só o sovina, amarrado e mão de vaca são sinônimos
de mesquinho.
Quem dá furo (não
cumpre o prometido ou compromisso) é fulero: Quem não cumpre compromisso é uma
pessoa sem palavra.
Sujeira de olho é
remela: Dizemos também remela.
Gente insistente é
pegajosa: insistente é teimosa.
Catinga de suor é
inhaca: Inhaca é qualquer catinga.
(Texto publicado em 6 de dezembro de 2008 no endereço eletrônico www.webartigos.com/artigos/nossa-lingua/12261/)
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