CONTO DE DRUMMOND
Nascer
O filho já tinha nome, enxoval, brinquedo e destino traçado. Era João como o pai, e como aconselhavam a devoção e a pobreza. Enxoval e brinquedo de pobre, comprados com a antecedência que caracteriza, não os previdentes, mas os sonhadores. E destino, para não dizer profissão, ou melhor ofício, era o de pedreiro, curial ambição do pai, que, embora na casa dos 30, trabalhava ainda de servente.
Tudo isso o menino tinha, mas não havia nascido. Eles nascem antes, nascem no momento em que se anunciam, quando há realmente desejo de que venham ao mundo. O parto apenas dá forma a uma realidade que já funcionava. Para João mais velho, João mais moço era companhia tão patente quanto os colegas da obra, e muito mais ainda, pois quando se separavam ao toque da sineta, os colegas deixavam por assim dizer de existir, cada um se afundava em sua insignificância, ao passo que o menino ia escondido naquele trem do Realengo, e eram longas conversas entre João e João, e João miúdo adquiria ainda maior consistência ao chegarem em casa, quando a mãe, trazendo-o no ventre, contudo o esperava e recebia das mãos do pai, que de madrugada o levara para a obra.
Estas imaginações, ditas assim, parecem sutis; mas não havia sutileza alguma em João e sua mulher. Nem o casal percebia bem que o garoto rodava entre eles como ser vivo; pensavam simplesmente nele, muito, e confiados, e de tanto ser pensado, João existiu, sorriu, brincou na sensibilidade de ambos. Como alguém que, na esperança de um grande negócio, vai pedindo emprestado e gastando tranquilamente, João e a mulher sacavam as alegrias futuras. João sentia-se forte, responsável. Escolhera o sexo e a profissão do filho; a mulher escolhera a cor, um moreno claro, cabelo belo liso, olhos sinceros. Não havia nada de extraordinário no menino, era apenas a soma dos dois passada a limpo, com capricho. (Transcrito por Maria Antonieta Antunes Cunha em Ler e redigir)
DO CALEPINO POTIGUAR
Abacaxi - Tarefa difícil de resolver. Embrulhada. Dançador desajustado que pisa nos pés da dama. Coisa. ruim.
HUMOR
O médico dá uma bronca no paciente:
- Não estou entendendo qual é a sua... Você vive pedindo remédio para dormir, mas não sai daquela boate perto da sua casa!
- O senhor não entendeu mesmo... Os remédios são para a minha mulher! (Seleções de Seleções - dezembro de 2004)
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