domingo, 19 de dezembro de 2021

ENTRETENDO - EDIÇÃO DE DOMINGO

VOLTA DO LATIM

Persona tragica - A máscara de teatro

Do latim ao português - Diz-se "casos" em latim para definir a função sintática do nosso português. São seis os casos:
Nominativo: sujeito ou predicado
Genitivo: adjunto ou complemento, geralmente regido de preposição
Dativo: objeto indireto de um verbo
Acusativo: objeto direto de um verbo
Vocativo: chamamento. Há o vocativo também em português
Ablativo: adjunto adverbial.

Nominativo - Persona tragica - a máscara do teatro
Genitivo - Personae tragicae  - da máscara de teatro
Dativo - Personae tragicae - à máscara de teatro
Acusativo - Personam tragicam - a máscara de teatro
Vocativo - Persona tragica - ó máscara de teatro
Ablativo - Persona tragica - com a máscara de teatro.

Juiz de Paz  (Carlos Drummond de Andrade)

O juiz de paz chegou cedo ao cartório. Era dia de muito casamento - o santo da folhinha ajudava. Aquele cartório! Feio, desarrumado como todos os cartórios. E por que se casam tantas pessoas no Brasil? Por que estão sempre fazendo a mesma besteira? Não aprendem?
O oficial-maior apareceu vinte minutos depois, para desagrado do juiz de paz. Quando o magistrado chega - mesmo sendo juiz de paz, a majestade é uma só - o cartório deve estar preparado como um templo, os acólitos em seus lugares. Mas o oficial-maior é mulher, e mulher não tem jeito não.
- Quantos, hoje?
- Dezessete.
Barbaridade. Trinta e quatro noivos, suas famílias e testemunhas espremendo-se na salinha e nos corredores, fazendo barulho de motor. O juiz de paz não pensou na renda, pensou na amolação.
- Silêncio!
A energia da voz e da campainha fez estremecer os nubentes. Moças nervosas ficaram com medo - de quê? É tudo tão inseguro hoje em dia, nunca se sabe se haverá mesmo casamento ou se, à última hora...
Chamado o primeiro par, rapaz e moça aproximam-se um tanto estúpidos, como acontece nessas ocasiões, e sentam-se. O oficial-maior anota nomes e endereços das testemunhas. O juiz manda que todos se levantem e é obedecido, menos pelo oficial-maior.
- A senhora não vai se levantar?
- Não.
- Como juiz, ordeno ao Sr. oficial-maior que se levante e proceda à leitura do termo.
- Vou ler sentada.
- Não ouviu minha ordem?
- Não recebo ordens do senhor.
- De quem recebe, então?
- Do Dr. corregedor da justiça. 
- Pois então não há casamento.
Os noivos entreolharam-se, estupefatos. a noiva, lacrimejante.
- Não faz assim com a gente, seu juiz!
- Sinto muito, mas todos os casamentos estão suspensos.
Um rumor de onda batendo na praia acolhe a declaração. O oficial-maior continua sentado(a). Interessados apelam. 
- Por que a senhora não se levanta? Que que custa!
- Já fiquei sentada muitas vezes, hoje é que ele implicou. Não pode fazer isso. 
- Não impliquei nada. É da lei. 
- Implicou. Vive implicando comigo. Sou uma pobre moça solteira, mas não admito ser humilhada.
O corregedor, procurado pelo telefone, não foi encontrado. O juiz de direito da vara de família atendeu depois de muito número discado, e respondeu que só resolvia consulta por escrito.
O juiz de paz estava sem cabeça para redigir. O oficial-maior, passado o instante de bravura, chorava baixinho. Três partidos se haviam formado. Não se humilha uma mulher. A um juiz não se desacata. Ela devia ceder. Ele é que devia. Que é que a gente tem com isso?
- Se quiser, eu mesmo redijo para o senhor. 
Era o oficial-maior, oferecendo colaboração ao juiz de paz. 
Ele pensou que fosse ironia, mas o tom era sincero. Começaram a elaborar a consulta. Ela achava as palavras por ele. E foi escrevendo por conta própria: a serventuária rebelde tinha 20 anos de serviço, estava cansada, reumática. Enquanto podia levantar-se, não deixou de fazê-lo. Agora, era um sacrifício. Ele olhava-a escrever e tinha uma ruga na testa.
Pode parar. Não vou fazer consulta nenhuma.
Ela encarou-o. 
- Reconheço que tenho andado nervoso, essa dor de cabeça constante. Vou ao médico. Tenho sido um juiz de paz ranheta. Me perdoe. Também essa vida que eu levo, tão sozinho...
O oficial-maior retirou o papel da máquina. Os dois voltaram a seus postos, e os noivos foram chegando e casando. Só um havia desistido - Deus sabe por quê. Durante o quinto casamento, o oficial-maior fez menção de levantar-se, como quem diz: agora chega; mas o juiz, com um gesto, aconselhou-a a ficar como estava. Três meses depois, o juiz de paz estava casado com o oficial-maior. (Reinaldo Mathias Ferreira)

HUMOR

Um rapaz de poucas posses se apaixona por uma garota cuja família é muito rica. Ao saber que o pai dela só aceitaria um genro rico, pede a um amigo que vá com ele à casa da garota e aumente tudo o que ele disser. 
Quando o velho pergunta ao rapaz o que ele tem para oferecer à sua filha, ele humildemente responde: 
- Bem, eu tenho uma casinha.
O amigo tenta ajudar:
- Casinha?! Uma fazenda! É preciso um dia inteiro para percorrê-la de carro.
Nesse ínterim, o rapaz começa a tossir e o velho então comenta:
- É, você não parece nada bem. 
- Que nada! Isso é apenas uma tossezinha.
E o amigo:
- Tossezinha?! Que nada! Tuberculose! (Seleção de Seleções)

COSTUME ANTIGO - Professor chega na sala, alunos se levantam.

GERAÇÃO MODERNA  - Assistir e ler

A geração atual é mais habilitada no ato de assistir e não de ler. Tem a seu dispor e favor uma infinidade de opções que as gerações passadas não dispunham. Havia televisão, mas não chegava em todas as casas. O que restava como bom passatempo era a leitura. Leitura era de jornal e revista. Depois, o livro - didático ou paradidático. Na verdade, eram os romances que davam suporte à uma boa leitura, principalmente os clássicos. Estes, como sempre, trazem uma boa prosa e uma linguagem escorreita.
O quadro que se vê hoje é uma geração que vê filmes e séries em abundância e lê pouco os clássicos.

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POESIA

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