terça-feira, 1 de março de 2022

CRÔNICA

GALOS AUSENTES

Onde estão os galos com seus cantos da madrugada e varando as manhãs?

Choco para alguns, pois seu canto não é universal na sua entoação e ritmo. Até a bondade e a beleza da voz variam de galo para galo.

Há aqueles que dão uns estirões, uma cantada esticada, que nos dão a ideia que aquilo não acaba mais ou que mesmo engoliu alguma coisa e está engasgado o pobrezinho. Mas não. Pode ser que ele esteja tão rouco de cantar que forçou demais as cordas vocais. 

Há ainda a possibilidade de uma gripe apanhada por aí - não dos humanos. Se isso fosse possível, certamente não haveria um galo sequer sem gripe, devido a onda terrível pela qual passamos.

Como num fio bem articulado, seus cantos se interligam de rua a rua. Até parece que eles combinam a hora de um começar e de outro emendar, lá bem longe. Quem começa primeiro? O melhor cantor poderia comandar o início do canto, pois se sentiria privilegiado. Os melhores cantariam antes? 

Não é assim entre os humanos nos shows que fazem por aí. Os que fazem a janela são os primeiros mas não são os melhores. Teoricamente, pelo menos, não são os melhores nem ganham igual. Entre os galos tanto faz, visto que eles não ganham nada com isso. Cantam pelo instinto, quiçá por prazer.

São perturbados muitas vezes por estranhos que se intrometem em suas vidas num captar para si e tirar de seus donos o senhorio. Geralmente são captações ilegais e criminosas. Criminosas em dois sentidos: o furto e o crime propriamente dito,  e depois de levá-lo para algum lugar para servir de saboroso tira-gosto de uma cana malvada com os amigos.

Sei que sinto a ausência desses cantos. Será que eles mudaram de bairro com seus donos? Ou será que eles estão tão escassos que os donos os venderam e não renovaram o estoque?

Sua música matinal precisa voltar para ecoar no espaço e encantar novamente os ouvidos de seus apreciadores.



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Faltam apenas dezesseis centímetros para a barragem "Jessé Pinto Freire" - barragem de Umari - sangrar.