Histórias da Velha Totonha - José Lins do Rêgo
A Velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. Ela vivia de contar histórias de Trancoso. Pequenina e toda engelhada, tão leve que uma ventania poderia carregá-la, andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das Mil e Uma Noites. Que talento ela possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável de falar em nome de todos os personagens! Sem nem um dente na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras.
As suas histórias para mim valiam tudo. Ela também sabia escolher o seu auditório. Não gostava de contar para o primo Silvino, porque ele se punha a tagarelar no meio das narrativas. Eu ficava calado, quieto, diante dela. Para este seu ouvinte a velha Totonha não conhecia cansaço. Repetia, contava mais uma, entrava por uma perna de pinto e saía por uma perna de pato, sempre com aquele seu sorriso de avó de gravura dos livros de história. E as suas lendas eram suas, ninguém sabia contar como ela. Havia uma nota pessoal nas modulações de sua voz e uma expressão de humanidade nos reis e nas rainhas dos seus contos. O seu Pequeno Polegar era diferente. A sua avó que engordava os meninos para comer era mais cruel que a das histórias que outros contavam.
A Velha Totonha era uma grande artista para dramatizar. Ela subia e descia ao sublime sem forçar as situações, como a coisa mais natural deste mundo. Tinha uma memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando de vez em quando pedaços de prosa, como notas explicativas.
Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles intrigantes... (Do livro Menino de Engenho)
A VELHA TOTONHA - É símbolo de uma geração antiga em que contar histórias para os outros era passatempo. Vivendo num tempo em que não havia nenhuma diversão, contar histórias era a única coisa agradável para se fazer e divertimento na certa para os ouvintes.
IDEIAS DE PIERLUIGI - As armadilhas
Em primeiro lugar, lembre-se de que todos nós temos a tendência de nos dedicar mais àquilo de que mais gostamos e em que nos sentimos cada vez mais seguros.
No entanto, temos tendência a deixar de lado justamente aquilo em que temos mais dificuldade.
Consequentemente, se não tomarmos cuidado, teremos a tendência de nos tornar cada vez melhores naquilo em que já somos bons e cada vez piores naquilo em que já temos deficiências.
O dia em que você ouvir frases do tipo: eu não preciso saber matemática: eu sou da área de humanas!
Ou então: Odeio ler literatura, mas não me preocupo com isso, e nem preciso disso, afinal, sou de exatas!
Saiba que você está lidando com pobres coitados que caíram nessa armadilha. (Do livro "Aprendendo inteligência", do professor Pierluigi Piazzi)
RECORTE DE JORNAIS
Transposição - A Assembleia Legislativa não ficou alheia ao projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Ao contrário. Além de realizar um debate sobre o assunto, com a presença do ex-ministro Aluízio Alves, a Assembleia constituiu uma comissão de deputados que, juntamente com colegas de outras assembleias do Nordeste, discutiu a questão e levou ao conhecimento da população a necessidade de concretização do projeto. Foi, inclusive, solicitada uma audiência ao presidente Fernando Henrique Cardoso. (Resenha da Assembleia - Jornal Gazeta do Oeste, em 30 de setembro de 1998, quarta-feira)
ASSUNTO ANTIGO - A transposição das águas do rio São Francisco é debatida há milhares de quilômetros de anos. Quem conseguirá ver o término dessa história?
EDUCAÇÃO - Cada participante do sistema de ensino deve focar numa coisa: lutar por um ensino de qualidade. Ensino, entenda-se, é transmitir para os alunos aquilo que deu certo desde quando existe escola no mundo: conteúdos.
ORIGEM DAS PALAVRAS - Altar - Do latim altus, alto.
O termo vem de que a mesa sobre a qual se ofereciam os sacrifícios era colocada num lugar alto.
Dicionário da origem e da evolução das palavras, de Luiz A. P. Vitória)
A explicação sobre a origem da palavra altar atesta a necessidade de termos na escola noções básicas da mãe da nossa língua - o latim.
Considerando que a escola é lugar de aprendizagem da alta cultura, o latim nos ajuda a entendermos a nossa língua.
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