quinta-feira, 28 de maio de 2020

CONTO

A guitarra mágica 

Sempre que ia dormir, havia um barulho, lá longe, de um som bonito, toque de uma música conhecida do meu tempo de criança. Assim se passou uns dez dias.

A cada manhã, quando botava os primeiros goles de café na boca, olhava para os outros de minha casa com um olhar que queria dizer alguma coisa ou perguntar por aquilo. Mas faltava coragem. A razão disso era ser julgado como louco. "Que barulho"? Alguém poderia imaginar que eu estivesse ouvindo sons esquisitos vindos do outro mundo ou simplesmente sonhando. Passaram-se os dias, e eu decidi resolver a parada. Quando a música começou, levantei-me discretamente, pé ante pé, abri a porta devagarinho e igualmente fechei-a. Sorte minha que ninguém acordou. Era um pouco mais de dez da noite. Antes de abrir o portão que dava para a rua, tive o cuidado de olhar os transeuntes. Havia alguns que pareciam ir pra casa. Ao sair, notei um que acelerou o passo cuidando que eu fosse uma pessoa má que iria atacá-lo. Retive o passo pra dissolver aquela impressão. Retomei o passo em direção do som que continuava tocando. Meu passo era lento, por isso ainda estou dobrando a primeira esquina. Encontro um rapaz e pergunto: "ouves aquele som de guitarra?" Ele não escuta ou faz que não entendeu. Devo estar sonhando mesmo. Vou acordar. Muito próximo, o som fica mais intenso. Chego numa casa abandonada. Crio coragem e entro. Até agora não vejo gente ou guitarra. Adentro num quarto. Vejo a guitarra, e o som cessa nesse momento. No quarto não havia ninguém. A guitarra continuou a tocar. Minhas pernas começaram a tremer, pois aquilo não era possível. Fechei os olhos, depois abri. Resolvi sair devagarinho, para depois fugir a toda velocidade.

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PROVÉRBIO

A candeia morta e a gaita à porta.