sábado, 30 de maio de 2020

PÁGINA VIRADA

De passos lentos, pelo peso da idade, ele caminhava pelas ruas. Já não mais usava somente duas pernas, mas uma terceira. Apoiava-se na simples bengala, que servia também para afugentar os cães da manhã em suas caminhadas. Saudava a todos, voz rouca, leve sorriso.

Há tempo que não o via, porque ele não saía ou porque estava sem coragem de enfrentar o tempo duro que é mais inexorável com os menos favorecidos de saúde e de mais idade. Nem sequer seu nome tinha eu tinha ouvido nesses últimos meses. 

Só ontem que soube de sua partida recente. Oitentão talvez ou mais que isso. Partiu sem que víssemos desfigurado. Talvez um mal que pode ser revestido em bem essa coisa de não se poder ver com facilidade para as despedidas é o fato de não podermos reter na memória uma imagem de corpo sem vida, mas de uma viva que dá a impressão que a página nunca foi virada.

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TRINTA E CINCO

Pela medição de hoje pela manhã, a sangria da nossa barragem está a trinta e cinco centímetros para sangrar. Basta um empurrãozinho que vai.