Monteiro Lobato
Jeca Tatu era um pobre coitado que morava no mato, numa casinha de palha tão esburacada que mais parecia uma tapera. Vivia ali em grande pobreza, junto com sua mulher, magra e feia, e vários filhinhos, amarelos e tristes.
Jeca tinha horror ao trabalho. Passava os dias de cócoras no terreiro, pitando enormes cigarrões de palha, sem coragem de fazer coisíssima nenhuma.
Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de cocos, mas não se lembrava de plantar nem um pé de couve. Plantar não era com ele.
Perto corria um ribeirão, onde pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. Com isso lá ia vivendo.
Dava dó ver a miséria da sua casa.
Não havia nela nem móveis, nem roupas, nem asseio, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, uma espingarda que negava fogo, e só.
As crianças tinham cara de sofrimento. Viviam chorando de dor de barriga, dor disto, dor daquilo. Jeca, em vez de curá-las, dizia:
- Viver é padecer.
Todos que passavam por lá e viam tamanha lambança, murmuravam:
- Que grandessíssimo preguiçoso!
Jeca Tatu nem parecia gente, de tão feio e desengonçado que ficou. Não escovava os dentes, não lavava a cara, não tomava banho - tudo de preguiça.
Além de feio, fraco. Tão fraco que quando ia ao mato lenhar vinha com uns feixes que pareciam brincadeira. E vinha arcado, como se estivesse carregando toda a mata nas costas. (Português Dinâmico, Siqueira & Bertolin, 6ª série)
CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA - Todos pensavam que Jeca era preguiçoso porque queria, mas quem prosseguir na história, veremos que o personagem era preguiçoso porque era doente. Ele fica forte ao tomar remédios e passa a trabalhar muito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário