Eles se foram, aos poucos. Nem avisaram por que é de sua natureza não avisar da partida. Primeiro vai um. Depois dois, dez, quinze, vinte, cinquenta e aos magotes. E o dono fica olhando e reclamando, visto que o reclamar é a única coisa que ele pode fazer.
No outro dia, outra olhada. "Será que mais alguns se foram?"
Sim. Os amigos avisam que mais se foram. "Comigo também foi assim", relembra um.
"Sabe que eu tinha muitos, mas quando cuidei, estava só com a metade? Pois com você vai ser do mesmo jeito. Não adianta espernear, porque não vai dar jeito nadinha."
Depois de ouvir isso, a vítima começa a se conformar e já nem repara o que dizem os amigos. Eles também passaram por isso e nada puderam fazer, por que vou me preocupar?
Mais uma vez, diante do espelho, ele contempla ainda o que resta. Exclama, enfim, e diz: "Eles se foram." E remata: "Coisas da natureza não se explicam. Em outros, eles permanecem a vida inteira, juntinhos. Em outros, se vão e nos deixam na mão, assim desnudos.
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