quinta-feira, 21 de abril de 2022

CRÔNICA

Insônia

O galo canta e redobra o cantar ao longe. Uma muriçoca pia por aqui, enquanto um transporte zoa por ali, um zoar de carro acelerado por um pé indisciplinado de corredor noturno.

Chega a vez do bichano, que mia um miar longo, como quem está em agonia. Prolonga a miação, enquanto outro puxa ao longe outro miar mais brando e não menos chato. É uma miação com um volume menor.

Lá para outras bandas, um cachorro entoa um coro que só eles entendem. É um latido prolongado e recheado de barulho ensurdecedor e perturbador de vizinhança. No sentido de afungentá-lo, alguém aparece com um objeto rebolante e ameaçador. Não foi nem preciso agir, porque ele correu ligeirinho, mas não deixou de latir.

A mulher madrugadeira cantarola aquele cantar de todos os fins de noite e início de madrugada. É uma canção das mais antigas e de uma estrofe só.

Um dia o meu amor se foi
Mas a saudade ficou
Alojada por aqui
Agora não sei o que fazer
Se a saudade eu arranco
Ou continuo a sofrer.

A cantiga era desentoada e repetida à exaustão. Como era cantada por uma caminhante, logo ficou longe e seu canto não foi mais possível ser ouvido.

Os animais que trotam nas noites também foi fácil de ser ouvido. O relinchar fazia companhia daquelas tropeladas. Parece que não estavam acompanhados de seus donos, pois não se ouvia palavra alguma que os acompanhasse.

E assim, noite e madrugada se foram. O jeito foi levantar-se e comparecer, como já fazia há alguns meses, no café da esquina mais próxima. Lá encontraria muitos que não conseguiam pregar os olhos.

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