sábado, 30 de março de 2024

QUE PALAVRA!

Umbuzeiro

Encontramos em "Os Sertões", de Euclides da Cunha, quando descreve a terra onde houve a histórica Guerra de Canudos, o umbuzeiro:

É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Representa o mais frisante exemplo de, adaptação da flora sertaneja. Foi, talvez, de talhe mais vigoroso e alto - e veio descaindo, pouco a pouco, numa intercadência de estios flamívomos e invernos torrenciais, modificando-se à feição do meio, desinvoluindo, até se preparar para a resistência e  reagindo, por fim, desafinado as secas duradouras, sustentando-se nas quadras miseráveis mercê  da energia vital que economiza nas estações benéficas, das reservas guardadas em grande cópia nas raízes.

E reparte-as com o homem. Se não existisse o umbuzeiro aquele trato de sertão, tão estéril que nele escasseiam os carnaubais tão providencialmente dispersos nos que o convizinham até ao Ceará, estaria despovoado. O umbu é para o infeliz matuto que ali vive o mesmo que a mauritia, para os garaúnos dos llanos.

Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o seio acariciador e amigo, onde os ramos recurvos e entrelaçados parecem de propósito feitos para a armação das redes bamboantes. E ao chegarem os tempos felizes dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da umbuzada tradicional.

O gado, mesmo nos dias de abastança, cobiça o sumo acidulado das suas folhas. Realça-se-lhe, então, o porte, levantada, em recorte firme, a copa arredondada, num plano perfeito sobre o chão, à altura atingida pelos bois mais altos, ao modo de plantas ornamentais entregues à solicitude de práticos jardineiros. Assim decotadas semelham grandes calotas esféricas. Dominam a flora sertaneja nos tempos felizes, como os cereus melancólicos nos paroxismos estivais.

Quando trata do "Homem", Euclides da Cunha fala sobre suas tradições, como as cavalhadas e mouramas e o consumo da umbuzada pelos vaqueiros:

Volvem os vaqueiros ao pouso e ali, nas redes bamboantes, relatando as peripécias da vaquejada ou famosas aventuras de feira, passam as horas matando, na significação completa do termo, o tempo, e desalterando-se com a umbuzada saborosíssima, ou merendando a iguaria incomparável de jerimum com leite.



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