domingo, 8 de maio de 2022

ENTRETENDO - EDIÇÃO DE DOMINGO

As joias de Cornélia

Era uma escondida manhã, na velha cidade de Roma, há muitos, muitos anos. Brincavam em um jardim dois meninos, quando, sob as latadas de videira, aproximavam-se a mãe deles e uma de suas amigas.

- Já viste senhora mais linda que a amiga da mamãe? inquiriu do outro, um dos irmãos. Até parece uma rainha.

- Qual! não é tão bonita como a mamãe. Ela tem um vestido mais rico, mas o rosto não é meigo e nobre. A mamãe é que parece uma rainha, respondeu o segundo.

- É mesmo; a mamãe é a mais bela e amável de todas as mulheres, replicou o primeiro. 

Cornélia, a mãe dos rapazes que assim conversavam, veio ter com os filhos. Vestia uma túnica branca, singela, tinha os braços nos e os pés descalços, segundo o costume daqueles tempos, e não lhe ornavam os dedos custosos anéis, nem os pulsos as cadeias de ouro, nem o colo os colares fascinantes que ostentava a dama em sua companhia.

Com terno sorriso, Cornélia, a rainha da túnica branca e de coroa espessa de fartas tranças enrodilhadas à cabeça, olhou para os meninos.

- Filhos, disse ela, tenho que contar a vocês uma coisa.

Os rapazes fizeram-lhe uma profunda reverência, pois assim é que ensinavam os romanos aos filhos a tratar os pais, e perguntaram:

- Que é, mamãe?

- Vocês hoje vão jantar conosco no jardim, e a senhora aqui vai, então, mostrar-nos o cofre das joias de que tanto ouvimos falar.

Os rapazes olharam enrubescidos, para a nobre dama, que tinha ainda outros anéis e colares e gemas além das que sobre ela fulguravam.

A refeição foi frugal e, terminada, um servo trouxe o cofre. Abriu-o a dama: lá dentro havia cordões de pérolas brancas como o leite em macias como o cetim, punhados de rubis flamejantes como fogo, e safiras azuis como céu de um dia de verão, e diamantes que faiscavam e despediam áscuas tal qual o sol nas manhãs límpidas de maio.

Os irmãos olharam deslumbrados para aquele festival de luzes e contemplaram longamente as gemas.

- Oh! se a mamãe tivesse também joias tão lindas! exclamou o mais velhinho.

Afinal, cerrou-se o cofre e levaram-no cuidadosamente para dentro.

- É verdade, Cornélia, que não tens joias? indagou a grande senhora. É verdade que tu és pobre?

- Não, respondeu Cornélia, não sou pobre. E enquanto falava, atraía a si os filhos. Eis aqui as minhas joias. Eles valem mais que todas as tuas.

Creio que nunca mais os meninos esqueceram o que dissera a mãe e o mundo inteiro  não o esqueceu, porque eles depois se tornaram grandes homens em Roma, e ainda hoje se  conta a história das joias de Cornélia, a mãe dos Gracos.


Nenhum comentário:

VINTE E NOVE CENTÍMETROS PARA A SANGRIA

A barragem "Jessé Pinto Freire" está por um triz para sangrar. Agora faltam somente vinte e nove centímetros.