Dizem que havia num certo lugar, um cidadão que
tinha o apelido de “Garapa”. Para onde ele olhava estava o fantasma da garapa.
“Ô Garapa!” Para sua infelicidade, ele começou a se enfezar, ou dar preço, como
costumamos dizer. Foi pior. Se ele reclamava do apelido, aí é que a coisa se
arruinava. Havia algumas vezes em que os apelidadores se postavam nas esquinas
esperando o garapa passar. Numa dessas vezes, Garapa não aguentou mais e
resolveu dar parte. O delegado acolheu a denúncia e chamou o pessoal para que
parasse com aquilo, pois fulano não estava mais agüentando. Pararam. Mas
utilizaram uma estratégia diferente: um ficava numa esquina e gritava: “água”.
Outro, noutro ponto, dizia de lá: “açúcar”. E um outro, gritava com todas as forças:
“Mistura!”
Recentemente na cidade apareceu um caso parecido em
algum aspecto, mas muito diferente no sentido geral. Aqui, o nome não é garapa,
não é feito somente por uma pessoa, nem muito menos apelido. Muito pelo
contrário. As partes envolvidas é que resolveram fazer uma mistura de coisas
que até 2008 eram muito diferentes. Você aí que gosta de política e história,
já deve estar entendo do que estou falando. É a política do Junto-e-misturado.
Quem conhece história também sabe da política do café-com-leite. Foi no século
XIX que no Brasil tivemos a política de revezamento do poder nacional
executada na República Velha entre 1898 e 1930, por presidentes civis
fortemente influenciados pelo setor agrário dos estados de São Paulo - mais
poderoso economicamente, principalmente devido à produção de café - e Minas
Gerais - maior pólo eleitoral do país da época e produtor de leite.
Aqui é uma mistura de forças políticas, antes
adversárias. É a força da oposição ao governo municipal exercida pela liderança
de Luiz Jairo, somada com a força de Jorge Luiz e Céliton. Não me estenderei no
assunto porque toda a cidade sabe dessa mistura. O que nem todo mundo tem
certeza é da natureza dela. Tentarei explicar. Primeiro de tudo, nem todo mundo
acredita que essa miscelânea deva se concretizar, dado o tempo que ainda falta
para as eleições do próximo ano. Se a mistura houver mesmo, quem será o cabeça?
Outras perguntas estão sendo feitas por aí: Por que um vencedor de quatro
eleições consecutivas na esfera municipal e outras com o seu apoio (apoio a
Múcio Sá, Nélio Dias, Garibaldi Alves ao governo) vai apoiar um candidato que
há pouco tempo era adversário? A última indagação merece uma reflexão. Quem
indaga dessa maneira precisa conhecer a história recente da política local e do
Estado. Em 1990, José Agripino disputou com seu primo, Lavô, o governo do
Estado. Em 1994, Lavô era o candidato de José para sucedê-lo. Em 1992, Rivaldo
Gondim era candidato a vice na chapa de Amarildo. Em 1996, Rivaldo era de novo
candidato a vice, mas na chapa adversária. Rivaldo era companheiro de chapa de
Rosvaldo Bezerra. Em política, meus amigos, como diz um primo meu: tudo pode
acontecer. Em política, digo eu, que os rompimentos, os acordos acontecem.
E as misturas também.
(Texto publicado na mais recente edição do Jornal
de Upanema)
Nenhum comentário:
Postar um comentário