sexta-feira, 20 de maio de 2011

GARAPA

Dizem que havia num certo lugar, um cidadão que tinha o apelido de “Garapa”. Para onde ele olhava estava o fantasma da garapa. “Ô Garapa!” Para sua infelicidade, ele começou a se enfezar, ou dar preço, como costumamos dizer. Foi pior. Se ele reclamava do apelido, aí é que a coisa se arruinava. Havia algumas vezes em que os apelidadores se postavam nas esquinas esperando o garapa passar. Numa dessas vezes, Garapa não aguentou mais e resolveu dar parte. O delegado acolheu a denúncia e chamou o pessoal para que parasse com aquilo, pois fulano não estava mais agüentando. Pararam. Mas utilizaram uma estratégia diferente: um ficava numa esquina e gritava: “água”. Outro, noutro ponto, dizia de lá: “açúcar”. E um outro, gritava com todas as forças: “Mistura!”

Recentemente na cidade apareceu um caso parecido em algum aspecto, mas muito diferente no sentido geral. Aqui, o nome não é garapa, não é feito somente por uma pessoa, nem muito menos apelido. Muito pelo contrário. As partes envolvidas é que resolveram fazer uma mistura de coisas que até 2008 eram muito diferentes. Você aí que gosta de política e história, já deve estar entendo do que estou falando. É a política do Junto-e-misturado. Quem conhece história também sabe da política do café-com-leite. Foi no século XIX que no Brasil tivemos a política  de revezamento do poder nacional executada na República Velha entre 1898 e 1930, por presidentes civis fortemente influenciados pelo setor agrário dos estados de São Paulo - mais poderoso economicamente, principalmente devido à produção de café - e Minas Gerais - maior pólo eleitoral do país da época e produtor de leite.

Aqui é uma mistura de forças políticas, antes adversárias. É a força da oposição ao governo municipal exercida pela liderança de Luiz Jairo, somada com a força de Jorge Luiz e Céliton. Não me estenderei no assunto porque toda a cidade sabe dessa mistura. O que nem todo mundo tem certeza é da natureza dela. Tentarei explicar. Primeiro de tudo, nem todo mundo acredita que essa miscelânea deva se concretizar, dado o tempo que ainda falta para as eleições do próximo ano. Se a mistura houver mesmo, quem será o cabeça? Outras perguntas estão sendo feitas por aí: Por que um vencedor de quatro eleições consecutivas na esfera municipal e outras com o seu apoio (apoio a Múcio Sá, Nélio Dias, Garibaldi Alves ao governo) vai apoiar um candidato que há pouco tempo era adversário? A última indagação merece uma reflexão. Quem indaga dessa maneira precisa conhecer a história recente da política local e do Estado. Em 1990, José Agripino disputou com seu primo, Lavô, o governo do Estado. Em 1994, Lavô era o candidato de José para sucedê-lo. Em 1992, Rivaldo Gondim era candidato a vice na chapa de Amarildo. Em 1996, Rivaldo era de novo candidato a vice, mas na chapa adversária. Rivaldo era companheiro de chapa de Rosvaldo Bezerra. Em política, meus amigos, como diz um primo meu: tudo pode acontecer. Em política, digo eu, que os rompimentos, os acordos acontecem. E as misturas também.

(Texto publicado na mais recente edição do Jornal de Upanema)


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