domingo, 17 de junho de 2018

AS GARÇAS

Abro a janela. Que paisagem! Céu, serra e vale. Céu - gaze de puríssimo azul translúcido. Serra - a Mantiqueira, rude muralha de Safira. Vale - o do Paraíba, tapete sem ondulações que lhe enruguem o plaino.

Que é aquilo no azul da serra? Um ponto branco. Um voo lento de giz sobre a imprimidura do cobalto.

Garça! Reconheço-a logo pela amplidão do voo. Que maravilha o voo por manhã assim. Neve sobre azul....

Súbito...

- O bando!

Vinham em bando alongado, ora a erguer-se uma, ora a baixar-se outra, estas ganhando dianteira, aquelas atrasando-se. Passam a quilômetro da minha janela, tão perto que lhes percebo o aflar das asas. Mas...

- Outro bando! E outro, atrás! E outro bem longe!...

Jamais vi tantas e em tão formoso quadro. Montavam o rio. Emigravam. Passavam. Passaram... E deixaram-me com a alma tonta de beleza, a sonhar mil coisas, a rever o lindo voo de cegonhas que Machado de Assis evoca - as cegonhas que das margens do Ilisso partiam para as ribas africanas...

(Monteiro Lobato)

Nenhum comentário:

TRINTA E UM

Trinta e um centímetros é o que falta para a sangria da barragem "Jessé Pinto Freire", a conhecida barragem de Umari.