quinta-feira, 12 de junho de 2014

TORCER PARA?

A língua usada no cotidiano é leve, solta, sem preocupação com a pronúncia correta ou construção correta quanto à exigência da gramática.

O que não se deve perder de vista é o fato de que há momentos que as convenções sociais não admitem de jeito nenhum que falemos ou escrevamos do jeito que queremos. São os momentos solenes e os concursos e seleções de candidatos.

A coisa só pega de verdade quando queremos usar a língua da mesma forma em todos os lugares. Na escrita, há exigências severas. 

Não faz muito tempo que ouvi uma doutora falar para um grande auditório de professores que tal curso online era GRATUÍTO. Fiquei horrorizado, não somente pelo grau da doutora, mas por causa do erro absurdo de prosódia, ou seja, da correta acentuação tônica das palavras.

Aliás, há outros erros idênticos, tais como, récem e récorde. A segunda já ganhou dupla ortografia depois de tanta divulgação pela mídia nacional. Por enquanto, só dois dicionários grafam também récorde como correta. Por enquanto, a maioria só admite recorde (cór).

O QUE DIZEM AS GRAMÁTICAS?

Quem torce - deseja a vitória, segundo Luiz Antonio Sacconi, torce por, pelo, e não para. Torço pelo Flamengo, mas sei que time ruim não ganha somente com torcida grande.

Na língua cotidiana, continua Sacconi, se vê usado assim: Torceu para o Flamengo. 

Pode-se dizer que torcia para que o time ganhasse. Mas aqui o verbo já não pede complemento, isto é, é intransitivo.

O dicionário de Verbos e Regimes, de Francisco Fernandes, faz um acurado estudo sobre o verbo torcer, mas, pasmem, não no sentido como estamos utilizando agora: fazer torcida. Não consegui entender o por quê disso, mas faço cá minhas conjecturas: será que naquele tempo (1969) não se dava tanta bola para o futebol, e por isso o autor não deu destaque ao verbo torcer como transitivo indireto? Ou o próprio autor não achou que seria importante incluir o verbo torcer nesse sentido?  

O certo é que o estudante deve ter muito cuidado com o que ouve e vê pela TV, pois lá, em raras exceções, o vernáculo é proclamado de acordo com a norma culta. Sei que a TV é lugar também da informalidade, mas não fazia mal nenhum eles, os senhores e senhoras da grande imprensa dizerem que o brasileiro deve torcer pelo Brasil e não para o Brasil.

Não faz mal a gente se acostumar a pronunciar as palavras direito, porque os exames de ENEM e vestibulares já estão bem aí. Lá, a língua deve se desdobrar do jeito que eles querem.

Lá não se torce para o Brasil, mas somente pelo Brasil.


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