quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

COLUNA DE ZÉ WILSON - JANEIRO 2010

30 DIAS EM UPANEMA: O QUE VI, OUVI E SENTI.


De férias do meu trabalho, durante o mês de dezembro, fiz a opção de passar os 30 dias em Upanema. Neste período, participei de diversos diálogos, fiz diversas conversas e análises com amigos, políticos e populares, sobre desenvolvimento, política, futebol, qualidade de vida e outros assuntos, os quais quero dividir um pouco com os leitores do Jornal de Upanema, neste espaço.

Nesta edição conversaremos sobre desenvolvimento. Por ser um tema amplo, abordo apenas o desenvolvimento econômico com base no setor produtivo. De acordo com esses diálogos e análises, concluímos que continua bastante clara a falta de uma proposta local, organizada e coesa, para este setor, seja coordenada pelo executivo, pela classe política ou pelo setor privado. Upanema possui a mesma pauta de desenvolvimento econômico de praticamente 25 a 30 anos, ou seja, baseada na agropecuária, extrativismo e exploração estatal do petróleo. Nada desmerecedor a essas atividades, se a vocação local é essa, porém, não se percebe inovações, melhorias impactantes ou ampliação de mercado. O investimento público no aproveitamento das águas da barragem de Umari, a iniciação industrial e a exploração do turismo, que a cada quatro anos é tema de campanha, nunca passaram do papel e do discurso.

A crise econômica mundial teve reflexos significativos nas finanças das prefeituras, mas o uso desse “escudo” não pode ser arma sistemática para justificar a pouca iniciativa e a ausência de diálogo com a sociedade sobre os caminhos do desenvolvimento. È tempo de apostar na geração de renda baseada em pequenas iniciativas, que ao serem somadas, possam ser significativas no contexto municipal. Para isso, as possibilidades continuam acenando para o futuro. O artesanato, a fruticultura, o beneficiamento da cajucultura, a produção de mel, o extrativismo da carnaúba, a produção e o beneficiamento do leite e o turismo, são temas centrais do potencial existente, mas que precisam necessariamente, serem tratados de forma sustentável. Com aproximadamente 1.500 famílias no campo, Upanema não pode sonhar com alternativas que dependam de investimentos privados externos sem perspectivas claras que estes virão.

Trazendo essa discussão para o setor produtivo rural, fazendo um paralelo com a história mundial, quero dizer que cada vez mais compreendo porque o socialismo/comunismo soviético e cubano “fracassou”. Foi devido à falta de democracia e de participação popular em decisões estratégicas, sempre abordadas na concepção teórica desses sistemas e amplamente negadas por esses governos. Porém, transportando os sistemas políticos/econômicos mundiais, para uma dimensão local, compreendemos cada vez mais as atitudes dos líderes socialistas/comunistas, quando tentam proteger suas economias com decisões políticas/econômicas extremas. Eis a questão: não é possível compreender e aceitar que a produção e a comercialização limpa (sem agrotóxicos), justa (vendida do produtor ao consumidor) e economicamente saudável (produção e consumo local), que temos em vigência no município através de agricultores familiares assistidos por programas de assistência técnica que se baseiam em desenvolvimento sustentável, mesmo sendo uma produção em pequena escala, possam definhar ou simplesmente não conseguir crescer. As áreas de produção desse modelo produtivo não conseguem se expandir e os espaços de comercialização estão cada vez mais “espremidos”. Talvez o que ainda mantenha acesa a “chama” são os programas governamentais do Governo Federal, como Compra Direta, Compra Antecipada e Compra com Doação Simultânea. É claro que não estou sugerindo a intervenção do Estado na economia de mercado e na livre iniciativa. Estou apenas apresentando uma grande distorção entre capitalismo e desenvolvimento sustentável, que precisamos saber tratar para reduzir o impacto maléfico.

O fato da Secretaria Municipal de Agricultura estar nas mãos do Partido dos Trabalhadores, partido que sou filiado, não me faz pensar que está tudo resolvido e também não ter o direito de fazer uma análise crítica. É importante evidenciar que aquela aliança política se configurou não apenas por afinidade política, mas também por afinidade de propostas. Sabemos da capacidade do nosso Secretário, Aisamaque Dáliton e de sua equipe. Inclusive sua bravura tem sido digna de elogios, afinal sua desenvoltura foi polida no rico e fértil campo dos movimentos social e sindical, fatores extremamente positivos. Mas não estamos falando aqui do desempenho individual de uma pasta. Estamos querendo discutir modelos de desenvolvimento econômico local e ao mesmo tempo dizer que acreditamos num modelo que se baseia na produção agropecuária que possa estimular e apoiar 1.500 famílias que estão no campo.

Essa discussão não desmerece os acertos de outras e da atual gestão. Apenas colabora com:

· A visão de futuro do nosso município;

· A discussão do que temos a oferecer a nossa população jovem para que não busquem outros centros;

· A abordagem sobre as possibilidades da geração e/ou da permanência da moeda no nosso município.

· A opinião e a análise de outros cidadãos sobre modelos econômicos local.

E se voltamos a insistir com esse assunto, é porque acreditamos que as receitas atuais da nossa população economicamente ativa ou não (PIB, salários do setor público, aposentados, pensionistas, programas de redistribuição de renda e economia informal), precisam ser ampliadas para dar melhor qualidade de vida ao nosso povo.

Esperamos sua participação nesse debate e no próximo número falaremos sobre educação.

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PROVÉRBIO

A candeia morta e a gaita à porta.