quarta-feira, 16 de setembro de 2020

DIÁLOGO

No colóquio a seguir, há dois protagonistas: um jovem e um senhor que ressurgiu do passado.

- Bom dia, rapaz!
- Oi, véio! O que tá fazendo aqui?
- Estou tentando entender isso tudo que estou vendo. Me disseram que esta cidade é Upanema. 
- É. Tá vindo de onde?
- Nem eu mesmo sei. De repente reapareci e estou vendo coisas estranhas. Aqui é Upanema mesmo?
- Num já disse? O que mudou?
- Pra mim, tudo. Cadê a velha bolandeira que ficava perto do rio? Vi um rio diferente...
- Que é bolandeira?
- Não sabe? É uma máquina que descaroça algodão.
-Ah! Isso num existe mais! Naquela mesma rua papai me disse que teve uma cerâmica de tijolos e telhas.
- Hum! E ali perto da Igreja, que mudança é aquela?
- O quê mesmo?
- A praça da cidade.
-As praças. Aqui não tem só uma praça. A da Igreja é a Praça Padre Adelino que foi construída pelo prefeito Antônio Lopes, dizem os mais velhos. Depois foi reconstruída por Amarildo Martins em 2000.
- Fale das outras praças.
- Ah! A cidade está cheia de praças. Tem uma na Rua Francisco Bezerra, construída no final da administração de Antônio Targino. As outras foram feitas há pouco tempo, na administração de um jovem prefeito que administrou a cidade de 2001 a 2008. 
- Como era o nome dele?
- Jorge. Jorge Luiz. Tem praça na Avenida 16 de Setembro. Tem Praça da Criança. Tem praça que até perdi a conta.
- Cadê o cemitério que era ali no centro da cidade?
- Ah! Num trabalho escolar que fiz, estava com dificuldade de entender a história dos cemitérios e perguntei a uma pessoa que sabia do assunto.
- Cemitérios?
- Sim. Cemitérios. O cemitério que o senhor fala foi o primeiro que temos notícia. Há, pelo menos, três locais de cemitérios que Upanema já teve: o primeiro ficava por trás da Avenida Getúlio Vargas, nas proximidades onde hoje tem uma bomba de gasolina. Este o senhor deve conhecer. O atual é localizado lá nos conjuntos.
- Que conjuntos?
- É uma velha história. Eu ainda não tinha nascido, quando fizeram dois conjuntos residenciais. Hoje tem tantos que perdi a conta. É num desses onde foi construído o nosso cemitério. Na primeira administração do prefeito Luiz Cândido Bezerra, no final de 1970, ele fez uma importante reforma. No segundo mandato, ele realizou uma pintura.
- Qual foi o outro cemitério?
- Está é uma outra longa história. Rola por aqui que os Gonçalves fizeram um cemitério particular. 
- Menino, onde foram parar os telefones daqui. Cadê que não tô vendo?
-  Os telefones agora são chiques. Não tem mais fio, não.  Veja.
- Isso é telefone?
- É. Agora não precisamos mais de usar fios. É o telefone celular. Eu uso este no meu bolso e levo pra qualquer canto.
- Como funciona?
- Tem uma torre acolá que recebe informações de bem longe, de um outro aparelho chamado satélite. Eu ligo para outra pessoa que tem outro bagulho desse e nós batemos um papo legal. Se bem que ele não tem funcionado como a gente tá querendo.
- Que mundão doido é esse, menino?
- O senhor já viu o computador?
- Compu o quê?
- Computador. Um troço que inventaram pra facilitar a vida da gente. Através dele, a gente pode escrever, ouvir música, mandar uma carta pra outro e outras coisas mais.
- Que negócio é esse, menino?
- Nao se ouve mais música num rádio?
- Também. O computador faz coisas que o senhor nem imagina. Vamos falar de outra coisa. E por falar em rádio, aqui nós temos uma. Lá tem informações, músicas. A cidade vive ligada nela o dia todo. Na comunicação temos também um jornal mensal desde o ano de 2003. É o Jornal de Upanema.
- Cadê o correio?
- O correio é perto da Prefeitura e do Fórum municipal. O correio quase não entrega mais cartas. Hoje ele faz muitas outras coisas.
- Que negócio preto é esse que estamos pisando?
- É o asfalto. Não vê? O centro da cidade é todo calçado com essa massa preta que facilita os carros andarem.
- E os carros de boi?
- Que é isso, meu Senhor?
- Eram carros puxados por bois. Cadê eles?
- Por aqui não temos mais. Até carroça são poucas. Aqui temos é carros a gasolina, álcool e diesel. A moda também é a moto. Temos muitas motos por aqui. 
- Que carro é esse?
- Não é carro. É parecido com bicicleta. Só que tem motor. 
- Cadê o motor da energia?
- Não vê que não se usa mais motor? A nossa energia vem de longe.
- E a nossa água?
- Aqui temos muita água tanto pra beber quanto pra irrigar.
- Como é isso?
- Temos a terceira maior barragem do Rio Grande do Norte, a conhecida Barragem de Umari. Por aqui temos mais novidades, como a reforma do mercado público em 2003.
- Cadê os fotógrafos daqui? Não vejo um.
- Agora tudo está mudado. Temos as máquinas digitais. É bem pequenininha que cabe no bolso.
- Quem é o prefeito da cidade? Onde é a prefeitura?
- Atualmente é uma prefeita.
- E mulher vota?
- Vota e muitas delas são até governadoras. Aqui temos juíza, presidente da Câmara de vereadores...
- Abém! O mundo tá mudado mesmo! Estou até zonzo com tanta informação. Obrigado!
- Não há de quê!

(O texto acima é fictício, mas tem elementos da realidade local. Foi  escrito entre o ano de 2009 e 2010 e nunca tinha sido publicado).

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PROVÉRBIO

A consideração é inimiga dos apetites.