sexta-feira, 22 de abril de 2022

CRÔNICA

Um carinha

Encontrei um carinha acolá, sofrido, sambado. Há horas ou dias que vagava, sem rumo, escorraçado por todos que o encontravam. 

É muito provável que ele tenha sido enxotado por alguém que não vá com a cara dele ou que não aprecia sua espécie.

Isso mesmo! Há muitas pessoas que rejeitam algumas espécies de seres com base em algum julgamento que brota do interior, mas antes despertado por comentários nada científicos ou até mesmo lógicos.

"Eles fazem mal. Saiam perto deles, pois podem lhe agredir com isso ou aquilo."

Estava mesmo sambado. Andava devagar, capengando, claudicando, sem disposição para prosseguir na viagem. Não conseguia atravessar um pequeno trecho de rua, pois suas pernas bambas não davam condições.

Seus olhos, que já não são tão vivos, estavam quase sem abrir. As agressões que sofreu não atingiram aquelas partes, mas as dores que sentiu pelas agressões levaram a não ter disposição de abri-los como de costume.

"Tenho nojo dele", comentou um alguém que passava.

"Mas não precisa agredi-lo", comentou outro.

Quando eu passava o vi, ele enfunava o papo, característica dele e de seus amiguinhos. Notei, ao chegar mais perto, que havia algo esbranquiçado em seu corpo. Não foi preciso adivinhar: alguém, como é um mal costume de alguns, jogou sal para que o afugentasse de dentro de casa ou até mesmo do muro.

O carinha estava em maus lençóis, retorcendo-se. O melhor remédio foi jogar água limpa para aliviar suas dores e para que prosseguisse seu caminho e pudesse comer ainda muitos insetos menores, suas melhores presas.


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TRINTA E CINCO

Pela medição de hoje pela manhã, a sangria da nossa barragem está a trinta e cinco centímetros para sangrar. Basta um empurrãozinho que vai.