segunda-feira, 25 de abril de 2022

CRÔNICA

Sussurros

Como folhas secas agitadas pelo vento em tarde que aproxima uma chuva forte, aquele sussurrar não o deixava quieto, sem que se dispusesse a ficar parado, olhando, sem agir.

Eram ciciados com volume médios, inquietantes, como alguém estivesse falando para pessoas surdas ao pé do ouvido. Era algo que não se podia dizer nos telhados, mas privativamente, em lugares escondidos e distantes de outros que não podiam de nenhuma maneira ouvir aquilo.

O chiado prossegue, em murmúrios ininteligíveis, característico mesmo de alcova, câmara secreta, escondida no mais escondido dos esconderijos.

Ouvido atento, bem apurado, quase com a respiração parada, corpo relaxado, sem sequer tirar uma mão de um lugar, um mexer de um músculo. Atenção redobrada de quem precisa pegar uma presa importante. 

São ações providenciadas pelo nosso personagem na hora em que estava ali, depois passar, por acaso, e ouvir tudo aquilo aqui descrito.

Ficou, por muitos e muitos instantes, naquela posição e naquele buscar, por coisa que cuidava ser do seu interesse aquela captação, através de recursos naturais, braçais, digamos, e apenas com o recurso do ouvido, à guisa de caçador que quer pegar uma presa, que não nota o perigo que ronda ao lado. 

Nada de surreal, registre-se, foi ouvido.

Depois de perceber que já tinha captado tudo o que podia alcançar, saiu, em calçados de lã especial e esgueirou-se pela escuridão.




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