sábado, 13 de junho de 2020

CONTO

As aulas da restauração

Aprendemos dos nossos pais desde crianças que o nosso mundo algum dia, de alguma maneira terá fim. Eles nos ensinaram quando dávamos os primeiros passos e aprendíamos as primeiras sílabas. Isto logicamente, fez com que enraizasse em nós aquela noção de fim, destruição, desespero, caos. O fim significa que temos de aguardar logo após o desfecho um inferno de fogo inextinguível e eterno para os ímpios pecadores; um purgatório para os que não alcançaram de imediato a bem-aventurança, e que ficam submetidos também a um fogo que purifica os pecados gradativamente e que daí será introduzido ao Céu. Esse céu é o lugar de gozo dos privilegiados e predestinados, que na Terra fizeram a vontade do Criador.

Mas... há alguns dias as coisas no mundo pareciam que tudo corriam normalmente: as fábricas funcionavam; os professores lecionavam; as crianças saltitavam alegres, puras e inocentes à espera do vovô que as abraçava; a menina-moça prosseguia o amor pelo jovem; os preços - principalmente nos países capitalistas - galopavam sem freio; a inflação aumentava a cada minuto; os patrões pagavam baixíssimos salários aos empregados; os governos déspotas regiam seus países com vara de ferro; as doenças incuráveis continuavam assolando impiedosamente  o físico e as convivências dos enfermos; o trânsito louco ceifava vidas que desabrochavam ou que já não produziam, mas esperavam seus últimos dias em paz; os políticos guerreavam-se  entre si  por chegarem ao poder.

Diante disso, algo estava por acontecer. No entanto, ninguém esperava, pois todos estavam envolvidos com tudo o que é palpável, material e vaidoso. E outros voltados para o cepticismo - que atinge hoje grande parte dos homens. Isso nos faz pensar que em ambos os casos citados, não era exercida a fé que, talvez fosse a milésima parte de um grão de mostarda; isso dar pra imaginarmos que fé tinham.

De repente algo apareceu para quebrar a rotina que há milhões de anos existia. Imaginem só o que aconteceu: apareceram cerca de setecentos seres extraterrestres que invadiram o continente americano em grupos de dois, com a missão específica de banir da face da Terra tudo que constituía  mazela, erro.

Eles baixaram com uma rapidez tamanha tal como um relâmpago que se lança do Oriente para o Ocidente. Não sabe-se exatamente de onde vieram, mas sabe- se que surgiram de cima e dos lados.

Enquanto preparavam-se para agir, apareceram as conjecturas dos terrestres acerca da procedência dos estranhos: vieram de outros planetas habitáveis com a finalidade de conhecerem e fazerem-se conhecer aos novos habitantes; eram pessoas que já morreram e vinham resolver os problemas mais graves daqui. Outros diziam que eram discos voadores que vinham com o intuito desconhecido de nós. Na verdade, eles não viam discos voadores, somente pessoas.

As Forças Armadas cuidaram que fossem espiões ou invasores de países que tinham relações diplomáticas agravadas com eles.

Os menos esclarecidos e até os melhores leitores de profecias diziam que estavam presenciando o fim do mundo.

Além das suposições, vieram as reações que se processaram imediatamente: alguns oficiais quiseram deter ou bombardear os estranhos, mas emanava deles um poder virtuoso que impedia isso.

Imediatamente, todos eles conquistaram os espaços da Terra, e nas maiores escolas públicas e privadas, bem como universidades e ensinos secular e teológico, fizeram-nas deles.

Distribuíram em cada continente uma certa quantia proporcional de pessoas. Reuniam multidões para ouvirem as aulas que era um mini-curso dentro de cinco horas apenas. As aulas eram ministradas pelos próprios invasores.

O currículo era constituído dos seguintes assuntos: Introdução à Verdade e à Justiça, Paz I e II, Anti-racismo I e II, Amor I e II e Saúde I e II.

Não era um mero ensino tal qual o que presenciamos atualmente nas escolas, em que o aprendizado é baixíssimo, fruto de maus professores, desatenção por parte dos alunos e sufocamento que os meios de comunicação de massa impõem, e, consequentemente, toma o lugar da aprendizagem.

Lá era diferente: tudo o que ensinavam, os presentes assimilavam; os alunos não conversavam para não atrapalharem as aulas, pois havia um poder que produzia efeito benéfico a fim de que o que eles ensinassem fosse cumprido.

Quando findaram as aulas, todos se retiram, inclusive os invasores; estes voltaram para o lugar de origem.

Com essas aulas, a verdade foi desmascarada em todos os setores da sociedade mundial e os mistérios foram desvendados. Também foram plantadas sementes para gerações futuras.

(Texto premiado em 3° lugar no concurso promovido pela Faculdade de Filosofia e Letras de Mandaguari - PR, em 1988, quando na época eu estudava o 5° período de Letras na FURRN, atual UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte).


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