terça-feira, 30 de junho de 2020

CONTO

Muito cedo saiu, como de costume, para o seu caminhar matinal. Calçou-se, mascarou-se, bengalou-se - o último acessório servia para afugentar cachorros vadios que atacam os madrugadores.

Na esquina, pedintes de moedas para uma chamada no bar mais próximo. 

"Não tenho. E mesmo se tivesse, não dava. Não bebo e tenho raiva de quem bebe e fabrica a bebida."

Naquele dia estava sem sorte. Ao passar por um terreno baldio, uma cobra daquele tamanho. Bengala nela, mas ela fugiu.

Mais à frente, perguntas indiscretas:

"O que está fazendo a esta hora, homem de Deus?"

"Nada. O que você está fazendo também".

Mais adiante, alcança um grupo de caminhantes. Resolveram puxar conversa.

"Não quero conversar. Não se deve conversar caminhando. Gasta-se oxigênio à toa."

Chegou a vez dos cães. Vinha um lote, brigando, numa disputa ferrenha por uma presa amorosa. Era uma pra seis. Assim não dá.

"Querem ver? Vai sobrar pra mim!"

Mas felizmente não sobrou. Foram embora.

Outro lote apareceu. Dessa vez, jumentos na praça saboreavam gramas bem verdinhas, ainda molhadas da chuva da noite. Não se conteve e usou pela segunda vez a arma. Nem precisou bater nos animais. Apenas apontou para eles para que fugissem e fossem pastar em outro lugar.

O que fez agora o caminhante? Fez meia volta e voltou para casa.



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CHUVA

Hoje pela tarde, apenas uma neblina passageira. Quase nada a registrar.