domingo, 28 de junho de 2020

ENTRETENDO - EDIÇÃO DE DOMINGO

Caminhamos. Mais uma semana caminhamos e chegamos aqui. Uma nova se inicia. Nada de novo, talvez. O novo seria uma notícia da extinção do coiso entre nós. Mas ainda é cedo.

QUEM SE LEMBRA?

Ó de casa!... dá licença? - bradou neste momento com voz forte e sonora uma pessoa, que vinha subindo a escada do alpendre. (A escrava Isaura, Bernardo Guimarães).

A cena acima é uma amostra do comportamento das pessoas de bem do passado quando chegavam numa casa, quer de gente conhecida ou não. O ó de casa do texto dizemos por aqui ô de casa. As expressões equivalem-se.

TEXTOS ANTIGOS

O dono da ema

Foi um deus-nos-acuda quando o Zé Moreno chegou embriagado ao terreiro da fazenda Brejão, empunhando um revólver e querendo por fina força acabar com as danças a que pares amorosos se entregavam.

- Não faça isso, seu Zé Moreno, não faça isso! pediam-lhe todos.

Ante os modos súplices daquela gente acovardada, Zé Moreno desistiu de "queimar um diabo", mas prostrou com certeiro tiro uma ema que andava pelo pátio.

Houve um momento de pânico. A ema pertencia ao Calixto, sujeito temido e turbulento que morava na vizinha fazenda Água Dormida. A apreensão de todos foi maior ao se divulgar que um cabra de Calixto se escapulira em rumo da casa deste, a fim de lhe dar conta da afrontosa proeza de Zé Moreno. Ainda estavam todos a cochichar que "aquilo não ficava assim", quando Calixto, armado de rifle, riscou no Brejão e, apeando-se destramente, bradou de arma aperrada:

- Apareça, apareça quem matou minha ema!

Houve um silêncio de morte. Os olhares todos convergiram denunciantes para Zé Moreno, o qual, simulando a maior calma, quedou-se indiferente, como se nada tivesse a ver com aquilo. Então, animado, animado, o Calixto rompeu numa série de impropérios contra tudo e contra todos, insultando principalmente o velho Antônio Francisco, dono do Brejão. Este, que estava no interior da casa, pegou seu velho bacamarte boca de sino e inesperadamente saltou no meio do terreiro, gritando, resoluto:

- Apareça, apareça o dono da ema!

Toda aquela gente fechou os olhos, para não ver a desgraça. Mas o Calixto, esmorecendo, disse conciliador, e num riso amarelo:

-Deixe de besteira, Antônio Francisco, deixe de besteira! Eu tou é caçoando... Deixe de besteira! Ema é bicho do mato; você já viu ema ter dono?

(Leonardo Mota, Sertão Alegre, Edições de Ouro - Livro didático Português Dinâmico, Sétima série, Siqueira & Bertolin - IBEP)

É NOTÍCIA

Transposição - Volta a ser notícia a transposição das águas do Rio São Francisco.

A transposição é histórica. A primeira vez que ouvi falar foi no tempo de Aluísio Alves. Foi da própria boca dele que ouvimos rumores dessa transposição. Depois escutamos que Dom Pedro II foi quem primeiro pensou no assunto. Foi-se o Império, e nada de transposição. Agora no governo Lula - 2007 - saiu do papel e das cabeças. Houve até filme sobre o assunto. Ontem mais uma etapa foi inaugurada com a da abertura de  algumas comportas pelo atual presidente. O assunto vai se estender durante muito tempo ainda até sua conclusão.

Volta às aulas - A volta às aulas presenciais está naquilo que chamamos em matemática: uma incógnita. É um elemento escondido que ninguém sabe, mas saberá quando resolver algumas equações. Aqui o tempo é o senhor da coisa. Ele dirá quando e como. No momento, está todo mundo assustado com o coiso. Ninguém quer se aproximar das pessoas, pois o inimigo poderá estar lá. Setembro é o mês que ainda se arrisca dizer quando se refere ao tempo. O dia, não!

As folias - Já passaram algumas datas de folias, mas não foram possíveis devido ao motivo óbvio. As folias da semana santa e juninas passaram de largo. Vem aí o mês de setembro, sem contar com as folias fora de época carnavalesca. Aqui o 16 de setembro provavelmente está fora de cogitação. Tem ainda os comícios com suas pisadinhas, comitês e pombeiros. Tudo de forma virtual. Há ainda as festas religiosas da cidade e do campo.

Carro fumacê - A cidade espera o carro fumacê para espantar os mosquitos que estão causando dengue e chicungunya.

Sem chuvas - Terminamos a semana sem chuvas. Houve apenas chuviscos que não deram pra registrar no copinho.

Provérbio - Cavalo de campo não come pasto cortado.

EXPRESSÃO DO UPANEMÊS

Arriado os quatro pneus: apaixonadíssimo.
Às pampas: muito; grande quantidade.
Até que enfim: finalmente.

COMPORTAMENTO

Fumava-se. No ambiente sem luz pairava fixo o nevoeiro dos hálitos e um cheiro de sarro intolerável. (Trecho de "O Ateneu"). 

Naquela época - início do século XX e até dos anos 80, era comum o uso do cigarro entre professores e alunos. Depois apareceram leis que coibiram e proibiram tais usos no meio escolar e em todos os lugares fechados.

SAÚDE

•Tome banho todos os dias, pois é muito importante para a saúde, mas não o banho muito quente que prejudica. Melhor é o banho frio ou frio e quente alternado: um minuto frio, um minuto quente, sete vezes ou mais.

•Tome frequentemente algum remédio natural contra verme, pois a maioria dos brasileiros tem vermes e por isso não tem boa saúde. (Conselhos de Jaime Bruning)

Os casos e as vítimas da virose do ano seguem em ordem crescente. Está sem nenhuma pressa atrapalhando a vida de todo mundo - do menor ao maior.

Ivermectina - É um remédio que está sendo muito consumido, inclusive em Upanema. Quem toma está tentando prevenir-se contra o corona. Seu uso é desaconselhado por alguns médicos. Há contra-indicações, dizem eles. Pode causar diarreia, dores de cabeça e falta de disposição.

POESIA

Página virada

Quando a página virar
Quero estar virando com ela
Assim como acompanhei
Desde os primeiros rumores
De sua possível vinda
Quero estar aqui
Vivinho da silva
Para ver essa página passar
Como passamos uma página
De um livro ruim
Sem enredo
Sem história
Sem bons personagens
Sem ambiente agradável.

Quero que essa página passe
Tangida pelos bons ventos
Das pessoas virtuosas
De bons sentimentos.

Quero página virada
Que deixe poucos rastros
Na nossa história
Que muito em breve
Todos possamos
Cantar a a vitória
Em cantos bem entoados
Articulados
E que fechemos o livro
Para não mais abrirmos.












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TRINTA E CINCO

Pela medição de hoje pela manhã, a sangria da nossa barragem está a trinta e cinco centímetros para sangrar. Basta um empurrãozinho que vai.